São Paulo – Novas observações do objeto interestelar 3I/ATLAS, registradas entre julho e setembro de 2025 pelo Telescópio Óptico Nórdico de 2,5 m, localizado nas Ilhas Canárias, Espanha, mostram uma alteração inesperada em sua emissão de material. O fenômeno, caracterizado pela transição de uma anticauda – tonalidade de poeira e gás voltada em direção ao Sol – para uma cauda convencional apontada para fora da estrela, está no centro de discussões sobre a verdadeira natureza do corpo celeste.
Descoberto em 2024, 3I/ATLAS é o terceiro objeto interestelar identificado atravessando o Sistema Solar, depois de 1I/ʻOumuamua (2017) e 2I/Borisov (2019). Classificado inicialmente como um cometa interestelar, o corpo apresenta trajetória hiperbólica, indicando origem fora da órbita solar. Com diâmetro estimado superior ao de seus antecessores, o objeto atraiu atenção imediata pela massa relativamente elevada e pela inclinação orbital muito próxima ao plano da eclíptica, fator incomum para viajantes interestelares já catalogados.
De acordo com as imagens processadas por uma equipe internacional liderada por David Jewitt e Jane Luu, em colaboração com astrônomos europeus, o brilho residual em torno de 3I/ATLAS mudou de aspecto em um intervalo de cerca de 60 dias. Em julho e agosto, o jato de detritos estava orientado em direção ao Sol, formando a anticauda. No início de setembro, a estrutura se converteu em cauda padrão, direcionada para longe da estrela. Cada quadro do telescópio registrou o pixel mais brilhante como ponto de referência, enquanto a posição relativa ao Sol foi quantificada em unidades astronômicas (UA).
Anticaudas naturais já foram observadas em alguns cometas do Sistema Solar, porém a mudança repentina de orientação em tão curto período tem sido considerada atípica. Modelos de sublimação de gelo podem explicar o fenômeno caso determinada região superficial evapore em ritmo diferente do restante do corpo, mas também é possível que fatores externos ou internos controlem o jato expelido.
O engenheiro de software de missão espacial Adam Hibberd, voluntário na organização britânica Initiative for Interstellar Studies, sugeriu uma hipótese alternativa: se 3I/ATLAS fosse uma sonda interestelar artificial executando manobra de frenagem, a anticauda seria compatível com escape de propelente na direção contrária à velocidade de cruzeiro. Dessa perspectiva, a transição para cauda convencional, com o objeto já próximo do periélio – ponto de maior aproximação ao Sol – representaria o término ou a inversão desse impulso controlado.
Segundo Hibberd, o objetivo potencial seria reduzir a velocidade relativa do corpo até que a gravidade solar pudesse capturá-lo, permitindo órbita heliocêntrica estável entre Marte e Júpiter. A execução de tal procedimento implicaria a presença de tecnologia avançada capaz de coordenar empuxo de magnitude comparável ao de pequenas naves robóticas humanas.
No vocabulário científico, ocorrências que sugerem atividade tecnológica de origem não terrestre são denominadas tecnoassinaturas. A mudança abrupta de anticauda para cauda, se comprovadamente resultante de propulsão dirigida, se enquadraria nessa categoria.
O astrofísico Avi Loeb, da Universidade Harvard, tem defendido a investigação rigorosa de todos os objetos interestelares como potenciais portadores de artefatos. Loeb elaborou uma escala própria para classificar a probabilidade de artificialidade nessas descobertas. No caso de 3I/ATLAS, o pesquisador afirma que o corpo receberá nota 2 caso as observações durante o periélio confirmem comportamento de cometa natural, mas não alcançará nota 0 devido a dois fatores: massa consideravelmente superior à dos dois objetos anteriores e alinhamento orbital preciso com o plano eclíptico, ambos considerados anômalos.
Loeb destaca que, no periélio, a superfície do objeto será submetida a cerca de 33 GW de radiação solar. Para o cientista, monitorar a resposta física do corpo a esse aquecimento proporcionará dados decisivos. Ele também aponta a oportunidade de observação detalhada quando 3I/ATLAS atingir sua maior aproximação à Terra, prevista para 19 de dezembro de 2025.
Em paralelo às discussões acadêmicas, a NASA ativou sua Rede de Defesa Planetária para acompanhar de perto a passagem de 3I/ATLAS. Embora o protocolo de defesa seja projetado principalmente para monitorar objetos potencialmente perigosos, a agência optou por usar os recursos disponíveis a fim de coletar dados de alta resolução que corroborem ou refutem as hipóteses em debate. A ação inclui coordenação entre observatórios terrestres, radiotelescópios e sondas em órbita.
Entre os instrumentos que permanecerão apontados ao visitante interestelar estão o telescópio espacial Hubble, a rede de radiotelescópios de Goldstone e o sistema radar do Observatório de Arecibo, parcialmente restaurado para campanhas pontuais de ciência planetária. Especialistas esperam gerar modelos tridimensionais da estrutura do núcleo, medir com precisão a taxa de liberação de gases e poeira e comparar o espectro de emissão com o de cometas típicos, buscando divergências químicas ou isotópicas.
A órbita de 3I/ATLAS possui excentricidade superior a 1, valor característico de objetos não vinculados gravitacionalmente ao Sol. A inclinação de apenas alguns graus em relação ao plano da eclíptica contrasta com a orientação de 1I/ʻOumuamua e 2I/Borisov, que cruzaram o Sistema Solar em ângulos significativamente mais altos. O periélio ocorrerá ligeiramente dentro da órbita de Vênus, enquanto o afélio extrapola a região de Urano antes de regressar ao espaço interestelar, caso não seja capturado pelo campo gravitacional solar conforme proposto por Hibberd.
Estimar a massa do objeto requer combinar brilho observado, refletividade presumida e medidas indiretas de dispersão de poeira. Pesquisas preliminares indicam que o núcleo pode ter dezenas de vezes a massa de ʻOumuamua. Esse parâmetro influencia tanto a dinâmica orbital quanto a quantidade de energia necessária para uma suposta manobra de frenagem.
Modelos termodinâmicos sugerem que corpos ricos em gelo volátil começam a expelir material à medida que se aproximam do Sol. Se determinada região superficial contém mistura de CO2, CO ou NH3 em cavidades profundas, um jato anisotrópico pode surgir e produzir anticauda. Em seguida, alterações na inclinação relativa entre o eixo de rotação do objeto e a direção solar podem inverter o alinhamento do jato, gerando cauda convencional. Essa explicação não exige intervenção inteligente.
Por outro lado, a simulação apresentada por Hibberd ilustra que uma cauda orientada contra o deslocamento mudaria de configuração conforme a velocidade orbital se realinhasse com a trajetória heliocêntrica. Nesse cenário, a mudança não resultaria de modificações térmicas aleatórias, mas de ajuste deliberado na orientação dos bocais de propulsão ou no momento de ejeção de massa.
Imagem: Internet
Confrontar os dois modelos exige observações espectroscópicas precisas. Se o material expelido apresentar assinatura química anômala, como alta pureza em certos metais ou compostos sintéticos, o cenário artificial ganharia força. Se, contudo, a composição se mostrar compatível com gelo e poeira cometários, o comportamento poderá ser atribuído a processos naturais.
Entre outubro de 2025 e janeiro de 2026, astrônomos planejam uma sequência de janelas de observação. O período pós-periélio será crucial, pois o objeto se afastará do intenso brilho solar e ficará mais fácil de ser captado por telescópios ópticos e infravermelhos terrestres. A comunidade espera comparar curvas de luz, velocidade de rotação e morfologia da cauda em fases diferentes da órbita.
Missões espaciais em operação, como a sonda Solar Orbiter, podem fornecer ângulos alternativos, ajudando a calcular com maior exatidão a distribuição de partículas ao redor do núcleo. Projetos de rádioastronomia, incluindo o Very Large Array, estão preparados para detectar emissões não térmicas ou possíveis sinais de rádio de origem artificial, ainda que a probabilidade de comunicação dirigida seja considerada baixa.
O estudo de 3I/ATLAS, seja ele natural ou artificial, traz repercussões para diversas áreas da astrofísica. Caso se confirme a hipótese natural, os dados ampliarão o entendimento sobre a diversidade de objetos interestelares, regimes de sublimação em corpos ricos em voláteis e processos de formação de caudas. Em particular, o alinhamento orbital vai obrigar modelos de dinâmica galáctica a revisar probabilidades de corpos extrasolares chegarem com baixa inclinação.
Se, por outro lado, forem detectados indícios robustos de engenharia extraterrestre, o paradigma científico sofrerá impacto imediato. Tecnoassinaturas precisam atender a critérios de repetibilidade, exclusão de fenômenos naturais e confirmação independente. A cautela, portanto, é regra entre as equipes envolvidas, que articulam protocolos de análise estatística, compartilhamento aberto de dados brutos e revisões pares aceleradas.
O interesse em objetos interestelares motivou propostas de missões rápidas, capazes de interceptar viajantes que entram no Sistema Solar com pouca antecedência de detecção. No caso de 3I/ATLAS, o tempo restante até a maior aproximação à Terra torna inviável qualquer lançamento, mas as informações coletadas podem embasar conceitos de sondas de propulsão elétrica solar que aguardariam em posição favorável para interceptar o próximo visitante.
Análises de custo-benefício indicam que uma nave de poucos centenas de quilos, equipada com espectrômetro de massa, câmera de alta resolução e analisador de plasma poderia, à distância de poucos quilômetros, determinar composição, densidade e atividade interna do alvo. Para muitos pesquisadores, compreender a natureza de corpos como 3I/ATLAS é passo necessário no caminho de avaliar a frequência de vida e tecnologia em nossa vizinhança galáctica.
Até dezembro de 2025, espera-se que consórcios internacionais publiquem relatórios preliminares sobre:
Esses resultados fornecerão insumos para refinar a escala de classificação de Loeb e esclarecer se a transição de anticauda para cauda se encaixa em padrões físicos conhecidos ou exige explicação alternativa.
Independentemente do desfecho, a passagem de 3I/ATLAS reforça a importância de vigilância sistemática do céu. Com o aumento da sensibilidade de telescópios de varredura, como o Observatório Vera C. Rubin, especialistas preveem detecção anual de múltiplos objetos interestelares na próxima década, ampliando o repertório de casos para análise comparativa.
Enquanto isso, 3I/ATLAS segue sua rota. Nas semanas que antecedem o periélio, cientistas, engenheiros e entusiastas mantêm atenção redobrada, atentos a qualquer variação inesperada no brilho ou na geometria de sua cauda. A resposta final sobre sua origem ainda depende de dados em alta resolução, modelagem refinada e debate acadêmico rigoroso.
Fonte: OVNI Hoje
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