Pesquisadores do Nordic Institute for Theoretical Physics (Nordita), ligado à Universidade de Estocolmo, em colaboração com especialistas da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, identificaram padrões estatísticos inesperados em placas fotográficas obtidas no início da era espacial. Os dados, analisados no âmbito do projeto VASCO (Vanishing & Appearing Sources during a Century of Observations), revelam correlação entre flashes de luz registrados no céu, testes de armas nucleares conduzidos na década de 1950 e relatos de objetos voadores não identificados (OVNIs). Duas publicações recentes, uma na revista Scientific Reports e outra na Publications of the Astronomical Society of the Pacific (PASP), detalham os resultados.
As chapas analisadas cobrem um intervalo iniciado no começo de 1950, período em que a tecnologia espacial era inexistente. Naqueles anos, não havia satélites ou detritos orbitais capazes de refletir a luz do Sol em direção às câmeras terrestres. O acervo faz parte de extensas coleções históricas de observatórios que fotografavam o firmamento em exposições de aproximadamente 50 minutos para monitorar estrelas, nebulosas e outros alvos celestes. Anomalias pontuais nessas imagens costumavam ser descartadas como defeitos de emulsão ou ruído de instrumento. O projeto VASCO revisita esse material com ferramentas digitais que permitem comparar, em escala, registros tomados em épocas diferentes.
O objetivo principal do VASCO é detectar fontes que:
Segundo os coordenadores, a existência de flashes de curta duração em chapas obtidas antes de 1957 (ano do lançamento do primeiro satélite artificial, o Sputnik I) indica a presença de fenômenos que não podem ser explicados por satélites convencionais. A análise buscou compreender se tais ocorrências guardam relação com atividades humanas, em especial testes nucleares atmosféricos, ou com relatos de avistamentos de OVNIs.
O primeiro dos dois artigos, publicado na Scientific Reports, examina 106.000 eventos catalogados como transientes. Cada evento corresponde a um ponto luminoso que se comporta como uma estrela — aparece em uma exposição, mas não permanece nas chapas subsequentes capturadas minutos ou horas depois. Para compreender o padrão temporal, os autores cruzaram a data e a hora de cada flash com dois bancos de informação independentes:
A abordagem estatística considerou a janela de 24 horas subsequentes a cada detonação nuclear, bem como o número de relatos de OVNIs registrados diariamente. A equipe investigou se a frequência de transientes em cada dia era superior, inferior ou igual à média em condições normais, medindo a magnitude da variação.
O segundo estudo, divulgado pela PASP, concentrou-se em critérios geométricos para identificar assinaturas compatíveis com objetos físicos planos e altamente reflexivos. Os pesquisadores procuraram sequências de pontos em linha reta ou alinhadas em faixas estreitas, sinal de que um corpo poderia ter produzido reflexos sucessivos durante seu deslocamento angular diante da câmera. Além disso, adotaram um método descrito previamente no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society (MNRAS): comparar a incidência de flashes dentro e fora da sombra da Terra. Como a luz solar não alcança a região sombreada, reflexos especulares não se formam nesse setor, permitindo estimativa da fração de transientes possivelmente associada a reflexões.
O artigo da Scientific Reports aponta três conclusões centrais:
Já o estudo apresentado na PASP mostra:
Os cientistas enfatizam que os resultados não se encaixam em explicações convencionais associadas a artefatos de emulsão fotográfica ou defeitos de digitalização. A distribuição temporal dos flashes, sobretudo o aumento estatisticamente significativo no primeiro dia após testes nucleares, sugere mecanismo influenciado por fatores externos. Como as placas precedem a era dos satélites, a equipe considera plausível que parte dos transientes esteja ligada a objetos físicos já presentes em órbita, com superfícies planas capazes de produzir reflexos intensos e curtos.
A observação da noite de 27 de julho de 1952 surge como exemplo emblemático. Naquela data, controladores de tráfego aéreo e pilotos relatam uma série de objetos sobre a capital dos Estados Unidos. Paralelamente, uma placa fotográfica aponta múltiplos flashes alinhados na mesma região do céu. Embora a coincidência temporal não estabeleça causalidade, o registro reforça a necessidade de investigação aprofundada sobre a natureza dos fenômenos.
O déficit de um terço dos transientes na sombra terrestre fornece, segundo os pesquisadores, um indicador objetivo de que reflexões solares representam parcela significativa das ocorrências. A partir dessa constatação, eles concluem que os pontos luminosos não correspondem a asteroides, meteoros ou poeira espacial, já que tais corpos tendem a deixar rastros contínuos em exposições de 50 minutos.
Os autores ressaltam limitações inerentes ao trabalho:
Além disso, a ausência de satélites em 1950 não descarta completamente a existência de objetos artificiais não catalogados, mas o cenário histórico limita as hipóteses. O grupo recomenda que novas pesquisas combinem técnicas modernas de rastreamento óptico e radiofrequência com revisitações de outros arquivos fotográficos em diferentes latitudes.
Os dois estudos abrem frente de investigação sobre possíveis artefatos extraterrestres em órbita antes da era espacial humana. Caso confirmada, essa linha de evidência ampliaria discussões sobre inteligência não humana, monitoramento tecnológico externo ou mesmo detritos desconhecidos originados de programas secretos. Por enquanto, os pesquisadores evitam conclusões definitivas e defendem abordagem empírica sistemática, repetindo análises com conjuntos independentes de dados.
No curto prazo, as equipes planejam:
Imagem: ovnihoje
Entre 1951 e 1958, Estados Unidos e União Soviética realizaram dezenas de detonações atmosféricas, algumas com intensidades superiores a 10 quilotons. Esses testes liberavam grandes quantidades de radiação e produziam pulsos eletromagnéticos capazes de afetar a ionosfera. Desde a década de 1960, cientistas discutem se perturbações desse tipo podem alterar a propagação de ondas de rádio ou criar fenômenos luminosos. A recente correlação com flashes em placas astronômicas oferece nova perspectiva sobre possíveis efeitos indiretos das explosões nucleares.
Nos bancos de dados pesquisados, a maior concentração de detonações que coincidem com picos de transientes ocorre nos intervalos de testes no atol de Bikini, no Pacífico, e em locais desérticos do território norte-americano. A equipe mapeou a zona de visibilidade noturna de cada detonação e verificou se o campo de visão das placas coincidiu com as latitudes afetadas, reforçando a robustez estatística das correlações.
Os bancos de OVNIs empregados incluem registros do projeto Blue Book e de iniciativas civis. Para cada data, os pesquisadores computaram quantidade total de relatos, independentemente de classificação final (explicado ou não). Dias com maior incidência de avistamentos apresentaram correlação positiva com número de transientes. Esse aumento médio de 8,5 % por relato foi controlado por sazonalidade, eliminando variações decorrentes de fatores como maior atividade de observação em férias de verão no hemisfério norte.
Relatos coletivos, em que várias testemunhas descrevem o mesmo objeto, foram tratados como um único evento, evitando duplicidade. Mesmo após esse ajuste, a associação permaneceu. A equipe reforça que correlação estatística não implica relação causal direta; contudo, o padrão consistente sugere presença de elemento comum ainda não identificado.
Os flashes medem, em média, entre 13 e 17 magnitudes aparentes, faixa compatível com objetos de poucos metros de diâmetro a centenas de quilômetros de distância, desde que altamente refletivos. A ausência de rastros indica tempo de exposição breve — provavelmente inferior a um segundo — dentro da janela de 50 minutos. Essa combinação sustenta o modelo de superfícies planas, como painéis ou estruturas metálicas, girando lentamente e refletindo a luz solar em direção à lente.
Se os objetos estivessem a altitudes superiores a 10.000 km, poderiam permanecer em órbita por décadas sem reentrada significativa, em virtude da baixa resistência atmosférica. Essa hipótese ganha força diante do fato de que alguns transientes aparecem em tomadas separadas por horas na mesma posição, sugerindo órbitas estáveis e altas.
Após a divulgação, astrofísicos e especialistas em detritos espaciais demonstraram interesse em examinar outros arquivos históricos para replicar a análise. Há expectativa de que coleções mantidas em observatórios sul-americanos, australianos e africanos possam fornecer material complementar, oferecendo cobertura hemisférica mais ampla. Instituições arquivísticas vêm digitalizando placas em resolução suficiente para detecção de pontos da ordem de poucos micrômetros, requisito essencial para monitorar transientes.
Agências espaciais também foram alertadas sobre possíveis riscos de colisão, caso existam objetos não catalogados em órbitas médias ou altas. Embora não haja indícios de ameaça imediata, o rastreamento de artefatos desconhecidos tornou-se prioridade à medida que constelações comerciais de satélites se multiplicam.
Os estudos reforçam a existência de fenômenos luminosos de curta duração registrados antes da presença de satélites. A associação estatística com testes nucleares atmosféricos e com relatos de OVNIs sugere influência de fatores externos simultâneos, ainda não explicados por modelos tradicionais. A hipótese de objetos físicos planos e altamente refletores em órbita alta permanece a mais compatível com o conjunto de evidências. Entretanto, os autores reconhecem que investigações adicionais, baseadas em tecnologias contemporâneas e em outros arquivos fotográficos, são indispensáveis para elucidar a natureza desses flashes.
Enquanto novas análises não forem concluídas, o material estudado mantém aberto o debate sobre possíveis artefatos não humanos em torno da Terra e sobre os efeitos colaterais dos primeiros experimentos nucleares na atmosfera. O tema continua sob escrutínio, com expectativa de que futuras pesquisas cheguem a respostas mais definitivas.
Scientific Reports
Publications of the Astronomical Society of the Pacific
OVNI Hoje
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