Cometa interestelar 3I/ATLAS exibe comportamento típico antes de atingir o periélio

O cometa interestelar 3I/ATLAS está sendo acompanhado de perto por astrônomos depois de ter sido identificado em julho de 2025. O objeto, classificado como o terceiro visitante de fora do Sistema Solar já encontrado, trafega a aproximadamente 58 quilômetros por segundo e, mesmo antes de se aproximar ao máximo do Sol, apresenta uma atividade que surpreendeu pela semelhança com cometas de origem local. Observações realizadas por David Jewitt e Jane Luu indicam que o desprendimento de material do 3I/ATLAS é impulsionado principalmente por dióxido de carbono (CO₂), um mecanismo diferente daquele predominante nos cometas que circulam entre os planetas internos, geralmente ativados pelo vapor d’água.

Descoberta e confirmação da natureza interestelar

A identificação do 3I/ATLAS ocorreu a partir de levantamentos de rotina voltados ao rastreamento de objetos próximos à Terra. O registro inicial, datado de julho de 2025, imediatamente levantou a hipótese de que o corpo não pertencia aos domínios gravitacionais do Sistema Solar. Cálculos preliminares de sua órbita revelaram uma trajetória hiperbólica, incompatível com uma origem em qualquer das reservas de cometas conhecidas — como o Cinturão de Kuiper ou a Nuvem de Oort. A velocidade observada, estimada em 58 km/s em relação ao Sol, reforça esse diagnóstico, pois excede o valor necessário para escapar da atração solar, outro indicativo de procedência interestelar.

Após a confirmação, a União Astronômica Internacional adotou o prefixo 3I — sigla que designa o terceiro objeto interestelar detectado — antes do nome ATLAS, acrônimo do sistema de monitoramento que colaborou para a descoberta. A classificação oficial estabelece que a designação interestelar cabe a corpos cuja excentricidade orbital é superior a 1, ou seja, objetos que não permanecem gravitacionalmente vinculados ao Sol.

Trajetória e aproximação ao Sol

Os dados reunidos até o momento mostram que o 3I/ATLAS mergulha em direção às regiões internas do Sistema Solar em uma órbita hiperbólica acentuada. O ponto de maior aproximação ao Sol, o periélio, está previsto para ocorrer em data ainda a ser refinada, mas as observações relatadas foram efetuadas antes dessa passagem crítica. Mesmo a grande distância, instrumentos ópticos detectaram uma coma — a nuvem difusa que envolve o núcleo — e, semanas mais tarde, o desenvolvimento de uma cauda pronunciada. Esses fenômenos, comuns em cometas originários do próprio Sistema Solar, indicam que o aquecimento provocado pela radiação solar já é suficiente para desencadear sublimação em ritmo considerável.

A tendência, segundo os astrônomos, é que a atividade se intensifique conforme a distância até o Sol diminui. O monitoramento contínuo do 3I/ATLAS durante a descida em direção ao periélio deverá oferecer uma rara oportunidade de examinar, em tempo real, como um corpo formado em outro sistema estelar reage às mesmas condições físicas que afetam os cometas locais.

Composição e mecanismo de liberação de gás

Um dos principais resultados obtidos pelas equipes que acompanham o objeto diz respeito à sua composição volátil. Espectros coletados com telescópios de grande abertura revelam picos característicos de dióxido de carbono, um composto que passa diretamente do estado sólido ao gasoso (sublimação) em temperaturas inferiores às necessárias para vaporizar gelo d’água. Essa assinatura química indica que a liberação de CO₂ é o principal motor da atividade atual do 3I/ATLAS.

A preferência por dióxido de carbono como propulsor diverge do padrão verificado em grande parte dos cometas do Sistema Solar, cujas caudas se formam predominantemente a partir do vapor de água liberado depois que o núcleo atinge temperaturas em torno de 150 K. A diferença sugere que o 3I/ATLAS contém reservas relativamente abundantes de CO₂ próximo à superfície, permitindo o início precoce da sublimação enquanto ainda se encontra a uma distância significativa do Sol.

Apesar dessa particularidade, a consequência prática é semelhante à observada em objetos locais: a formação de jatos que expulsam grãos de poeira para o espaço próximo, gerando coma e cauda. Portanto, embora o agente volátil seja distinto, o padrão de comportamento mantém fortes similitudes com os cometas mais familiares aos astrônomos.

Taxa de emissão de poeira e características das partículas

Medições fotométricas permitem estimar a quantidade de material que escapa do núcleo. Os resultados apontam para uma taxa de aproximadamente 200 quilogramas de poeira por segundo, valor considerado significativo para um cometa observado antes do periélio. Análises da dispersão da luz indicam ainda que os grãos ejetados possuem dimensões médias em torno de 100 micrômetros — partículas grandes quando comparadas ao material fino observado em muitos outros cometas.

A presença de fragmentos macroscópicos sugere uma ejeção relativamente lenta, pois partículas maiores tendem a receber aceleração inferior aos grãos submicrônicos. Essa expulsão moderada coaduna com a observação de que a cauda demorou algumas semanas para se formar depois da detecção inicial, indicando um processo gradual de liberação. Ainda assim, a fração total de massa perdida ao longo de toda a aproximação poderá se traduzir em alterações perceptíveis na geometria do núcleo, característica que será avaliada por meio de registros inscritos em diferentes comprimentos de onda.

Comparação com cometas do Sistema Solar

A avaliação sistemática de parâmetros como brilho, taxa de desgaseificação e tamanho das partículas mostra que o 3I/ATLAS se encaixa, com surpreendente facilidade, na categoria de cometas de longo período originários da Nuvem de Oort, pelo menos do ponto de vista do comportamento físico. Ainda que o composto dominante seja o CO₂, fenômenos equivalentes já foram documentados em alguns objetos do próprio Sistema Solar, embora com menor frequência.

Essa constatação reforça a hipótese de que os processos de formação e migração de corpos gelados em sistemas estelares distintos podem levar a resultados semelhantes em termos de composição e dinâmica. Em outras palavras, o estudo do 3I/ATLAS sugere que a criação de cometas repletos de voláteis é provavelmente um resultado comum da evolução de sistemas planetários, o que amplia o interesse em registrar e analisar visitantes interestelares sempre que possível.

Relevância científica e perspectivas de pesquisa

O 3I/ATLAS oferece uma janela de investigação rara. Como o objeto foi detectado quando ainda se encontrava distante do Sol, a comunidade científica dispõe de mais tempo para planejar campanhas de observação cobertas por diferentes instrumentos, desde telescópios baseados em solo até observatórios espaciais sensíveis a diversos espectros de radiação.

Imagem: Internet

As oportunidades incluem:

  • Determinação detalhada do espectro de voláteis, comparando frações de CO₂, CO, água e outras moléculas presentes na coma.
  • Medição refinada do tamanho e da forma do núcleo, por meio de perfis de brilho e modelagem da dispersão da luz refletida.
  • Acompanhamento do aumento de atividade à medida que o objeto se aproxima do periélio, com registros de variações na taxa de liberação de material.
  • Análise da interação entre o gás e o campo magnético solar, o que pode fornecer pistas sobre a densidade e a velocidade de saída do plasma com origem no cometa.

Além de enriquecer o entendimento sobre a diversidade de cometas, o caso do 3I/ATLAS pode calibrar modelos de detecção automática que procuram por objetos de passagem interestelar. A identificação de características em comum com cometas do próprio Sistema Solar ajuda a evitar interpretações equivocadas quando novos corpos hiperbólicos forem encontrados, pois mostra que a assinatura fotométrica nem sempre difere de forma marcante.

Desafios na coleta de dados

A rapidez com que o 3I/ATLAS cruza o espaço representa um desafio prático: sua velocidade de 58 km/s implica uma janela relativamente curta de visibilidade ideal. Equipamentos de rastreio devem ajustar rotinas de observação para acompanhar mudanças rápidas nas coordenadas celestes do objeto. Além disso, o brilho total pode variar conforme surtos de atividade e mudanças na geometria de iluminação, exigindo instrumentação com dinamismo suficiente para reagir a variações repentinas de magnitude.

Outro ponto crítico refere-se à previsão de trajetória. Mesmo pequenas imprecisões na determinação das forças de perturbação — como a pressão de radiação ou a assimetria na emissão de jatos — podem alterar a posição calculada com o passar dos dias. Por essa razão, equipes de astrometria mantêm sessões frequentes de refinamento orbital, alinhando dados fotográficos e espectroscópicos para reduzir margens de erro.

Implicações para a ciência planetária

A observação de um cometa interestelar que se comporta de forma tão comum sugere que os mecanismos físicos responsáveis pela construção de planetesimais ricos em voláteis podem operar de forma análoga em ambientes estelares variados. Essa inferência colabora para a hipótese de que a composição de nuvens protoplanetárias, no estágio inicial de formação dos sistemas, apresenta convergências notáveis, ainda que diferenças químicas locais definam nuances específicas.

O estudo minucioso do 3I/ATLAS também serve de contraponto a análises de cometas do Sistema Solar, fornecendo um parâmetro externo que pode ser usado para testar teorias sobre migração de voláteis, compactação de poeira e preservação de gelo em períodos de trânsito interestelar. Em última instância, essas avaliações contribuem para estimar quantas vezes, ao longo da história galáctica, cometas oriundos de outras estrelas podem ter cruzado a órbita terrestre.

Continuidade do acompanhamento

Conforme o periélio se aproxima, novos dados serão essenciais para fechar estimativas sobre perda de massa total e possível fracionamento do núcleo. A detecção de fragmentação, caso ocorra, poderia elucidar a coesão interna do corpo e a distribuição dos voláteis abaixo da superfície. Instrumentos sensíveis a infravermelho, ultravioleta e rádio serão convocados para completar o mosaico de informações, cada um oferecendo peças complementares sobre temperatura, densidade de gás e composição molecular.

Até o momento, contudo, o 3I/ATLAS mantém estabilidade estrutural e se destaca por seguir um roteiro quase “convencional” de cometa, mesmo carregando a assinatura inconfundível de viajante interestelar. O comportamento oferece aos pesquisadores um laboratório natural para investigar como fatores extrassolares influenciam — ou não — o padrão de atividade de corpos gelados que entram na esfera gravitacional do Sol.

À medida que se multiplicam as campanhas observacionais, fica evidente que a fronteira entre cometas locais e interestelares pode não ser tão nítida do ponto de vista dos processos físicos em jogo. Diferentes origens podem levar a resultados muito parecidos quando a radiação solar passa a governar a dinâmica de sublimação e ejeção de poeira. Essa convergência é a principal lição, até agora, oferecida pelo 3I/ATLAS.

Fonte: arXiv

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