Subir em um edifício alto na cidade de Nova York costuma revelar uma peculiaridade que salta aos olhos de quem observa atentamente os painéis dos elevadores ou a sinalização nos corredores. Em numerosos prédios, a contagem dos andares salta do 12º diretamente para o 14º, dando a impressão de que o 13º simplesmente não existe. O fenômeno não está relacionado à maneira como os norte-americanos numeram os pavimentos — em que o piso térreo recebe o nome de primeiro andar —, mas a uma crença antiga que acabou transformando decisões de projeto, marketing imobiliário e até a rotina de manutenção predial.
Um levantamento divulgado em 2020 pela plataforma imobiliária StreetEasy, que analisou construções residenciais na metrópole com treze andares ou mais, constatou que apenas cerca de 9% desses prédios exibem o 13º andar na sinalização interna. A ausência é ainda mais visível na operação dos elevadores. Segundo a Otis Elevator Company, responsável por grande parte dos equipamentos instalados na cidade, aproximadamente 85% dos painéis omitiram o botão correspondente ao 13º andar, adotando a estratégia de saltar do 12º para o 14º.
Para contornar a lacuna aparente na contagem, administradores de edifícios recorrem a soluções variadas. Alguns rotulam o espaço intermediário como “12A”, evitando qualquer menção explícita ao número considerado de mau agouro. Outros optam por designar o pavimento como 14º, fazendo com que a contagem total ultrapasse o número real de andares. Há ainda casos em que o andar recebe uso não residencial, servindo para depósitos, áreas técnicas ou instalações de manutenção, mantendo-o fora da circulação cotidiana dos moradores.
A adoção do expediente é mais frequente em condomínios residenciais do que em edifícios comerciais icônicos. O Empire State Building, inaugurado em 1931, e o Flatiron Building, de 1902, mantêm oficialmente o 13º andar na numeração. Apesar disso, a tendência permanece predominante em boa parte das construções destinadas a apartamentos, refletindo a preocupação dos incorporadores em evitar qualquer elemento que possa gerar desconforto, ainda que se trate de uma parcela específica do público.
A aversão ao número 13 — conhecida pelo termo técnico “triscaidecafobia” — possui raízes em diferentes tradições culturais e religiosas. No universo cristão, a superstição costuma ser atribuída à Última Ceia, episódio em que Jesus teria reunido 13 pessoas à mesa, sendo Judas, o traidor, o último a ocupar um lugar. Na mitologia nórdica, relatos apontam que Loki, divindade associada à trapaça, foi o 13º convidado de um banquete em Valhala, ocasião que terminou em conflito e morte. Já em baralhos de tarô, a carta de número 13 representa a morte, reforçando simbolicamente o vínculo com maus presságios.
Não há consenso acadêmico sobre qual tradição exerceu influência decisiva na arquitetura moderna. Contudo, o temor se difundiu em sociedades de matriz ocidental ao longo de gerações e se fixou como elemento cultural. Em Nova York, a prática de ocultar o 13º andar ganhou força durante o desenvolvimento acelerado da verticalização no século XX. À medida que edifícios residenciais se tornavam mais numerosos, proprietários identificavam resistência de inquilinos à ideia de viver ou trabalhar em um pavimento numerado como 13.
Nesse contexto, construtoras e incorporadoras responderam à percepção do mercado de maneira pragmática. O historiador de arquitetura Andrew Alpern, em entrevista ao jornal New York Post, observou que um dos pioneiros pode ter simplesmente substituído o número após verificar dificuldade em alugar unidades localizadas naquele pavimento. Outros empreendedores, percebendo a solução, copiaram a estratégia, transformando um caso pontual em prática generalizada.
Do ponto de vista comercial, a supressão do 13º andar evita eventuais perdas na taxa de ocupação e agiliza a venda de apartamentos. Para reduzir custos operacionais e satisfazer clientes supersticiosos, empresas optam por aderir ao costume em vez de correr o risco de enfrentar objeções. Em um edifício de 27 andares, por exemplo, a contagem pode ir de 1 a 28, de forma que cada unidade mantenha o valor de mercado calculado. O ajuste não altera a altura total da edificação, mas modifica a forma como os pavimentos são apresentados.
A omissão de um número no sistema de andares exige alterações em vários níveis. A engenharia de elevadores precisa programar painéis eletrônicos, chaves de chamada e sistemas de controle para pular uma posição. Essa configuração, relatada pela Otis Elevator Company, se tornou padrão em grande parte dos equipamentos fornecidos à cidade. A sinalização interna deve corresponder ao layout do elevador, exigindo placas de orientação e mapas de evacuação atualizados para impedir confusão em emergências.
Em edifícios onde o 13º andar recebe a designação “12A”, o desafio é manter coerência entre as plantas de construção, registros municipais, contratos de locação e seguros. Agências de fiscalização utilizam documentos técnicos que indicam a contagem real de lajes. Portanto, o pavimento existe legalmente, mas surge ao público com outra etiqueta. Equipes de manutenção, serviços de entrega e bombeiros precisam conhecer a correspondência exata entre a nomenclatura adotada e a altura física para operar com segurança.
Algumas construções de perfil histórico ou corporativo mantêm o 13º andar sem alteração. O Empire State Building, projetado no final da década de 1920, é um exemplo notável. A decisão refletiu as diretrizes de seu arquiteto, William F. Lamb, e de seus investidores, que não consideraram a superstição determinante. Já o Flatiron Building, finalizado três décadas antes, apresenta igualmente um 13º pavimento. Apesar de ambos receberem grande fluxo de turistas e empresas, a numerosa oferta residencial em Manhattan e em bairros adjacentes preferiu seguir outro caminho.
Na região de Midtown, arranha-céus mais recentes erguidos para hospedar escritórios de empresas de tecnologia e finanças criam prédios com sistemas de segurança eletrônica avançados; mesmo nesses casos, a numeração do 13º andar nem sempre aparece. A decisão depende de estudo de mercado, postura dos investidores e, eventualmente, da identidade corporativa de potenciais inquilinos. Start-ups menos suscetíveis a tradições podem aceitar instalar-se em um 13º andar; ainda assim, gestores imobiliários raramente arriscam criar restrições de ocupação por detalhes que podem ser contornados mudando um dígito no painel.
A distinção de abordagem entre residências e escritórios está relacionada ao perfil do usuário. Moradores tendem a manter uma relação pessoal com o endereço, o que intensifica percepções subjetivas sobre sorte ou azar. Executivos, por sua vez, ocupam espaços corporativos guiados por critérios de localização, área útil e custo. Em muitos contratos de aluguel comercial, a preocupação por simbologias numéricas é substituída por cláusulas de eficiência de piso ou flexibilidade de layout.
Imagem: Lucas Rabello
Apesar dessa lógica, a tradição não se limita a condomínios residenciais. Hotéis em Nova York também demonstram variações na numeração. Certas redes internacionais, atentas ao público global, preferem seguir um padrão mais pragmático, mantendo o 13º andar visível. Outras evitam o número, buscando agradar clientes de várias nacionalidades que possam associá-lo ao azar. O objetivo é criar um ambiente neutro, livre de possíveis desconfortos.
No Departamento de Edificações da cidade, cada projeto arquitetônico deve especificar a quantidade real de lajes, sem omitir qualquer nível estrutural. Portanto, o 13º andar aparece nos documentos oficiais — ainda que a placa interna exiba “14” ou “12A”. Essa divergência superficial não afeta códigos de segurança, pois engenheiros consultam plants detalhadas que incluem o nome técnico do pavimento. Porém, o público raramente tem acesso a esse material, criando a impressão de que o andar não foi construído.
Numa inspeção de rotina, fiscais ou bombeiros utilizam relógios de altímetro ou contagens por degraus para confirmar a altura exata de cada pavimento, independentemente do número designado ao público. Dessa forma, a conformidade com normas de evacuação e a instalação de sprinklers são avaliadas sem levar em conta a nomenclatura comercial do andar.
Ignorar o número 13 não altera o orçamento de concreto, aço ou fachada, mas acarreta pequenas despesas administrativas. Projetos de identificação predial precisam de sinalizações personalizadas; softwares de controle de acesso e manutenção de elevadores demandam programação adicional. Porém, essas adaptações representam fração ínfima do custo total de uma obra de grande porte, tornando-se financeiramente viáveis diante do potencial ganho na facilidade de comercialização.
Na prática, a onipresença da superstição aponta para um tipo de “custo simbólico” considerado indesejável pelos incorporadores. Caso os compradores evitem unidades rotuladas como “13A” ou “1301”, o empreendimento corre o risco de prolongar o ciclo de vendas ou reduzir a margem de lucro. Assim, eliminar o 13º do vocabulário das placas se mostra um investimento mercadológico de baixo valor e retorno presumido.
A despeito da persistência do hábito, sinais de mudança surgem ocasionalmente. À medida que moradores se familiarizam com debates sobre racionalidade, estatística e design universal, parte do público demonstra menor aversão a símbolos considerados de azar. Novos empreendimentos com foco em inovação ou em sustentabilidade podem optar por manter o 13º andar, enfatizando transparência na contagem e buscando diferenciar-se em um mercado competitivo. Contudo, a velocidade dessa transição permanece lenta quando comparada à consolidação da prática ao longo de décadas.
Consultores de mercado imobiliário observam que, mesmo entre compradores jovens, a decisão de fechar ou não um negócio costuma envolver influências familiares. Pais ou avós desencorajam a aquisição de apartamentos numerados como “13C” ou “1310”, reforçando a manutenção da superstição. Outro fator é o marketing de revenda: proprietários temem que, no futuro, o mesmo número reduza liquidez do imóvel no mercado secundário. Desse modo, preferem endereços isentos de controvérsia, o que mantém a omissão em evidência.
Em última instância, o 13º andar existe fisicamente na estrutura de concreto, aço e vidro de Nova York. Ele sustenta lajes, recebe rede elétrica, encanamento e circulação de ar como qualquer outro pavimento. No entanto, grande parte dos moradores jamais verá a placa “13” ao abrir a porta do elevador. Sem presença no painel ou nos corredores, o andar parece ter sido apagado, embora esteja situado entre o 12º e o 14º, invisível apenas para quem se guia pela numeração.
A coexistência entre superstição e planejamento urbano demonstra como valores intangíveis podem moldar decisões tangíveis, desde a programação de botões até a elaboração de contratos. Enquanto o debate permanece em aberto, a ausência do 13º andar segue como um retrato da forma como crenças coletivas repercutem em decisões práticas dentro de uma das cidades mais cosmopolitas do planeta.
Link para a notícia original: Mistérios do Mundo
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