Novas imagens revelam jato gigante do cometa interestelar 3I/ATLAS apontado para o Sol

Uma figura observando uma galáxia, simbolizando a busca por respostas no universo.

Imagens obtidas em 2 de agosto pelo Telescópio Gêmeo de Dois Metros (TTT), instalado no Observatório de Teide, nas Ilhas Canárias, indicam que o cometa interestelar 3I/ATLAS está expelindo um jato substancial de gás e poeira na direção do Sol. A sequência de 159 exposições de 50 segundos cada foi combinada em um único mosaico, no qual o núcleo gelado do corpo celeste — visto como um ponto escuro rodeado por um halo claro — exibe uma abertura em forma de leque. Nessa região, pesquisadores identificam material sendo projetado em alta velocidade rumo à nossa estrela. O registro, divulgado em 15 de outubro no serviço The Astronomers Telegram, reforça a interpretação majoritária de que o visitante é um cometa natural, e não uma nave de origem desconhecida, como chegou a ser sugerido por um grupo restrito de estudiosos.

Descoberta e confirmação

O 3I/ATLAS foi detectado no fim de junho e teve sua natureza interestelar confirmada pela NASA no início de julho. O prefixo “3I” indica que ele é o terceiro objeto proveniente de fora do Sistema Solar já observado — antecedido por 1I/ʻOumuamua, em 2017, e 2I/Borisov, em 2019. A trajetória hiperbólica do 3I/ATLAS evidenciou, desde o princípio, que sua órbita não está gravitacionalmente presa ao Sol, o que significa que o astro veio de uma região estelar desconhecida e retornará ao espaço interestelar após sua passagem.

Características do objeto

Estimativas iniciais apontam que o cometa possui entre 5 km e 11 km de diâmetro, tornando-o o maior objeto interestelar observado até agora. A dimensão confere ao 3I/ATLAS um valor científico considerável, pois sua composição pode oferecer pistas sobre o processo de formação de sistemas estelares diferentes do nosso. Além de ser grande, o corpo é potencialmente muito antigo. Pesquisadores sugerem que ele possa ter se formado bilhões de anos antes do nascimento do Sol, carregando material primordial que permaneceu praticamente inalterado ao longo de extensas viagens pela galáxia.

A antiguidade e o tamanho, somados à velocidade com que atravessa o Sistema Solar, despertaram especulações sobre a possibilidade de se tratar de tecnologia extraterrestre. No entanto, a hipótese recebe pouca adesão na comunidade científica. Para a maioria dos astrônomos, a atividade observada no 3I/ATLAS é totalmente compatível com fenômenos típicos de cometas.

Observações em 2 de agosto

Durante a sessão de captura no Observatório de Teide, os cientistas adotaram longas exposições para realçar detalhes na cabeleira e na cauda. No produto final, o núcleo surge envolto por um manto esbranquiçado de poeira e gases, conhecido como coma. A ruptura no brilho que contorna esse núcleo denuncia um fluxo assimétrico, descrito pelos analistas como um jato. No material divulgado, a feição aparece marcada em cor roxa para facilitar a identificação.

Jatos cometários geralmente se formam quando áreas específicas da superfície, mais frágeis ou compostas de substâncias voláteis, aquecem de forma rápida. O calor solar faz que o gelo passe diretamente ao estado gasoso, exercendo pressão sobre a crosta externa. Quando essa força supera a resistência do material superficial, ocorre a ejeção súbita de detritos e vapor, tal qual um gêiser, a milhares de quilômetros por hora. A rotação do núcleo pode então alargar o fluxo, produzindo o padrão em leque registrado pelo TTT.

O que são jatos cometários

Cometas se diferenciam de asteroides pela elevada quantidade de compostos voláteis congelados. Eles costumam apresentar duas componentes visíveis: a cauda, empurrada pelo vento solar e orientada no sentido oposto ao Sol, e a coma, uma espécie de nuvem gasosa ao redor do núcleo. Embora menos evidentes do que as caudas, os jatos são elementos comuns nessa classe de corpos celestes. Enquanto a cauda depende principalmente da interação com o fluxo de partículas emitido pela estrela, os jatos estão ligados à distribuição de calor na superfície irregular do cometa e ao conteúdo de gelo sob a crosta.

No caso do 3I/ATLAS, o jato observado aponta para o Sol, não para longe dele. Isso ocorre porque a ejeção inicial é governada pela pressão interna provocada pela sublimação. Após deixar o núcleo, parte desse material é arrastada para a cauda pelo vento solar, mas o estágio inicial do processo, registrado pelo TTT, ainda mostra o fluxo rumando na direção do aquecimento máximo — portanto, voltado para a estrela.

Comparações com outros cometas

Fenômeno análogo foi registrado em 2020 no cometa C/2020 F3 (NEOWISE), cuja aproximação permitiu observações detalhadas pelo Telescópio Espacial Hubble. Na época, imagens de alta resolução exibiram múltiplos jatos em forma de leques, resultantes do aquecimento desigual durante a passagem pelo periélio. A similaridade entre os padrões reforça a ideia de que o comportamento do 3I/ATLAS é coerente com o que se espera de cometas submetidos a intensa radiação solar.

1I/ʻOumuamua, por outro lado, não apresentou cauda ou jato discernível, gerando controvérsia sobre sua composição e levando parte da comunidade a sugerir que se tratava de um objeto rico em hidrogênio molecular ou mesmo algo de origem artificial. Já 2I/Borisov exibiu uma cauda convencional e composição parecida com a de cometas locais. A presença de um jato no 3I/ATLAS, portanto, insere o recém-chegado em um padrão de comportamento mais próximo ao do 2I/Borisov, oferecendo contraste adicional com o singular 1I/ʻOumuamua.

Trajetória atual e próximos eventos

O cometa interestelar 3I/ATLAS passou pelas proximidades orbitais de Marte em 3 de outubro. Naquele momento, sua distância ao planeta era suficiente para impedir qualquer risco de impacto, mas proporcionou oportunidade de monitoramento a partir de sondas e telescópios terrestres. A partir dessa data, o visitante continuou a aproximar-se do centro do Sistema Solar e alcançará seu periélio em 29 de outubro. Esse ponto marca a menor distância ao Sol antes de iniciar a saída em trajetória ascendente rumo ao espaço interestelar.

Entre o final de outubro e meados de novembro, o 3I/ATLAS ficará oculto para observadores na Terra, pois sua posição angular estará muito próxima do disco solar. A partir da segunda quinzena de novembro, o corpo deve emergir no céu matutino, permitindo nova rodada de estudos com instrumentos ópticos e radioastronômicos. Astrônomos planejam comparar as características fotométricas e espectroscópicas antes e depois do periélio a fim de determinar quanto material o cometa perdeu, como a atividade do jato evoluiu e se surgiram fragmentações adicionais na superfície.

Debate sobre origem

Logo após o anúncio da descoberta, um pequeno grupo de pesquisadores aventou a hipótese de que o 3I/ATLAS fosse uma sonda interestelar construída por alguma civilização. Os defensores dessa tese destacaram a forma como o objeto se aproxima do Sistema Solar e alegaram que certas particularidades poderiam sugerir controle de trajetória. Entretanto, a divulgação das imagens de 2 de agosto reforça o entendimento de que processos físicos convencionais explicam a maior parte das observações. A comunidade científica tende a requerer evidências extraordinárias antes de considerar conclusões sobre tecnologia extraterrestre, e até o momento não há dados que sustentem tal afirmação no caso do 3I/ATLAS.

Observadores ressaltam que o tamanho do cometa, sua composição gelada e o comportamento diante da radiação solar equivalem ao que se esperaria de um remanescente de formação planetária. Mesmo a ejeção de um jato em direção ao Sol, que alguns poderiam interpretar como “propulsão” se analisado fora de contexto, encaixa-se em modelos térmicos consolidados para a dinâmica cometária.

Oportunidades futuras de estudo

A volta do cometa ao campo observável em novembro deve mobilizar redes internacionais de telescópios, incluindo equipamentos nos hemisférios Norte e Sul. A meta principal é quantificar mudanças na luminosidade do núcleo e na taxa de emissão de gases. Caso o jato se intensifique, astrônomos poderão calcular a massa de material perdido e estimar a longevidade do objeto caso residisse de forma permanente em torno do Sol. Além disso, medições espectrais poderão revelar diferenças na composição química entre o material da coma e o da cauda, fornecendo indícios sobre camadas internas do núcleo.

Outra linha de investigação se concentra na rotação do cometa. O perfil em leque registrado pelo TTT sugere que o 3I/ATLAS apresenta um eixo de rotação inclinado e, possivelmente, um período curto. Mudanças no período de rotação podem ocorrer à medida que jatos assimétricos exercem torque sobre o corpo. Monitorar tais alterações ajuda a compreender como a sublimação influencia a dinâmica dos cometas, sobretudo daqueles que, como o 3I/ATLAS, visitam o Sistema Solar apenas uma vez.

Se futuras observações confirmarem a preservação de fragmentos de compostos voláteis raros, o cometa pode oferecer pistas sobre as condições químicas em regiões distantes da Via Láctea. A análise desses dados é crucial para modelos de formação planetária, que tentam explicar a abundância relativa de água, dióxido de carbono, metano e amônia nas diferentes populações de corpos menores.

Embora missões espaciais de encontro direto sejam inviáveis diante da velocidade e da órbita hiperbólica do 3I/ATLAS, sua passagem cria um laboratório natural para testar teorias sobre evolução térmica de cometas. A experiência acumulada com 2I/Borisov e com cometas de longo período como C/1995 O1 (Hale-Bopp) amplia a base comparativa para interpretar os fenômenos detectados agora.

Quando o 3I/ATLAS deixar o Sistema Solar, permanecerá a questão sobre o número real de objetos interestelares que nos cruzam sem serem notados. A descoberta de três exemplares em menos de uma década sugere que esses visitantes podem ser mais comuns do que se supunha. Novos levantamentos, combinando telescópios de grande campo e algoritmos de detecção, deverão elevar o total de avistamentos e aprimorar a estatística sobre a diversidade de material circulando entre as estrelas.

No curto prazo, porém, a atenção dos pesquisadores permanece voltada para o desenvolvimento do jato identificado nas Canárias. A comparação entre a imagem de 2 de agosto e os registros que serão obtidos após o periélio poderá confirmar se a atividade se manteve constante, diminuiu devido ao esgotamento de voláteis ou aumentou com a exposição prolongada ao calor solar. Esse acompanhamento contínuo permitirá avaliar a estabilidade estrutural do núcleo e a probabilidade de divisão em múltiplos fragmentos, fenômeno observado em outros cometas submetidos a fortes tensões térmicas.

Independentemente dos resultados, o 3I/ATLAS já figura como peça valiosa na compreensão de corpos interestelares. Sua combinação de grande porte, composição rica em gelo e atividade evidente amplia o leque de dados disponível para modelar a dinâmica cometária em ambientes gravitacionais diversos. Para a ciência planetária, cada imagem, espectro e curva de luz associados ao objeto traz informação inédita sobre o material que circula entre as estrelas e, por extensão, sobre a formação do próprio Sistema Solar.

No cenário de divulgação científica, a recente observação do jato contribui para esclarecer mal-entendidos recorrentes sobre cometas. A distinção entre cauda e jatos, a influência do vento solar e a relevância da rotação são aspectos frequentemente confundidos em explicações simplificadas. Ao evidenciar esses elementos de forma direta, o 3I/ATLAS ajuda a popularizar conceitos fundamentais e demonstra como fenômenos aparentemente extraordinários se inserem em processos naturais bem compreendidos.

Conforme outubro avança e o periélio se aproxima, telescópios profissionais e amadores continuam a acompanhar o intruso interestelar. As observações subsequentes, previstas para novembro e dezembro, devem revelar se o jato fotografado nas Canárias representa apenas o primeiro de vários surtos de atividade ou se corresponde ao auge de um evento único. Em qualquer hipótese, a coleta de dados detalhados ao longo dessa janela temporal enriquecerá a literatura sobre objetos interestelares e fornecerá material para estudos comparativos nos próximos anos.

Enquanto isso, equipes responsáveis por pesquisas de monitoramento de objetos transientes reavaliam protocolos de detecção a fim de identificar novos visitantes o quanto antes. A colaboração internacional, combinando redes de telescópios de pequeno e médio porte, mostrou-se essencial no caso do 3I/ATLAS, e tende a ser ampliada diante da expectativa de novos achados. Com instrumentos cada vez mais sensíveis e algoritmos de inteligência artificial atuando na triagem de dados, a astronomia prepara-se para uma era de descobertas frequentes de corpos vindos de outras estrelas.

A trajetória do cometa interestelar 3I/ATLAS, portanto, segue sob observação atenta. As imagens do TTT, ao revelar um jato robusto apontado para o Sol, acrescentam uma peça fundamental ao quebra-cabeça sobre a física e a química de objetos que se formaram em locais remotos da galáxia. As próximas semanas dirão até que ponto a atividade detectada influenciará a morfologia do núcleo e qual legado científico o visitante deixará antes de prosseguir sua jornada eterna pelo espaço profundo.

Live Science

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