O lançamento do documentário Capel Green, em 2025, retomou a discussão sobre o chamado “Roswell britânico” — o conjunto de ocorrências registrado entre 26 e 28 de dezembro de 1980 nas imediações das bases da RAF Bentwaters e Woodbridge, em Suffolk, Inglaterra. A produção apresenta depoimentos adicionais de ex-militares norte-americanos que alegam ter testemunhado não apenas luzes incomuns, mas o pouso de um objeto triangular e o aparecimento de entidades não-humanas em uma área da floresta conhecida como Capel Green. As novas falas, somadas a afirmações sobre filmagens confidenciais e suposto acobertamento militar, acrescentam novos elementos a um dos casos ufológicos mais citados no Reino Unido.
Contexto original do incidente
Os registros iniciais datam da madrugada de 26 de dezembro de 1980, quando os policiais de segurança da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) John Burroughs e Jim Penniston observaram luzes anômalas logo além do perímetro da base de Woodbridge. A dupla, acompanhada pelo aviador Ed Cabansag, avançou em direção à Floresta de Rendlesham imaginando tratar-se de uma aeronave em situação de emergência. Segundo seus relatos, o grupo encontrou um objeto metálico, baixo, de formato triangular, com luz vermelha pulsante no topo e fileiras de luzes azuis na parte inferior. Penniston afirma ter tocado a superfície do artefato, descrita como lisa e escura, marcada por símbolos comparados a hieróglifos. Três depressões no solo, marcas de queimadura em árvores vizinhas e leituras de radiação acima do normal foram registradas no local.
Duas noites depois, em 28 de dezembro, novas luzes surgiram. O então vice-comandante da ala, tenente-coronel Charles Halt, liderou equipe mais numerosa munida de contadores Geiger e gravadores. O oficial descreveu luz vermelha pulsante deslocando-se em zigue-zague acima da copa das árvores, emitindo feixes claros em direção ao solo, inclusive na área de armazenamento de armamentos. Halt reportou ainda que operadores de radar das proximidades identificaram objeto deslocando-se a velocidades consideradas incomuns, parando perto de um reservatório de água antes de desaparecer sobre a mata.
Versões oficiais e contestação inicial
Desde a década de 1980, autoridades britânicas e norte-americanas vêm atribuindo os episódios a equívocos, como reflexos de farol da costa, queda de meteoros ou exercícios militares paralelos. O Ministério da Defesa britânico, que encerrou a análise formal de relatos de OVNIs em 2009, liberou apenas correspondências administrativas relativas ao caso. Pesquisadores civis alegam que dados de radar da época teriam sido requisitados e não retornaram aos arquivos habituais, reforçando acusações de sigilo prolongado.
Novos depoimentos em Capel Green
O documentário, de produção independente assinada por Dion M. Johnson, recupera declarações de dois ex-policiais de segurança da USAF: Larry Warren e Steve Longero. Warren, que se apresenta como delator original do tema, sustenta que na noite de 28 de dezembro houve segundo evento, distinto daquele observado por Penniston e Burroughs, concentrado em Capel Green. Ele descreve objeto triangular de cerca de seis metros de largura, luz âmbar avermelhada no topo e estrutura que se distorcia visualmente. O ponto central de sua narrativa é a aparição de três figuras humanoides de olhos pretos alongados, observadas a menos de cinco metros de distância. Warren relata ambiente de silêncio incomum, quebrado apenas por latido distante, e menciona a presença de câmeras militares e de policiais britânicos registrando a cena.
Steve Longero confirma parte substancial do relato. De serviço na área de armazenamento de armas de Bentwaters, ele diz ter visto foco luminoso deslocando-se sobre o setor, acionando todos os alarmes. Segundo seu depoimento, o artefato teria demonstrado interesse específico pelos depósitos de armamento nuclear da base. Longero relata ter sido enviado à floresta depois que o objeto se moveu e, de longe, observou luz intensa em Capel Green. Ele afirma ter presenciado medições de radiação realizadas pelo coronel Halt e recebe instruções diretas para não divulgar ocorrências.
Alegações de registros audiovisuais e rota de sigilo
De acordo com Warren, parte do episódio foi filmada e fotografada por equipes norte-americanas e britânicas. O ex-militar sustenta que o material teria seguido para instalações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na Europa e depois para Washington, D.C. Ele cita declaração de 1985, atribuída ao capitão Mike Verono em transmissão da CNN, indicando que o coronel Gordon Williams teria guardado cópia da filmagem. Até o momento, nenhum desses supostos registros foi apresentado publicamente.
Para reforçar sua credibilidade, Warren afirma ter sido submetido a teste de polígrafo por especialista civil Patty Muzakaro, obtendo resultado favorável. Ele alega ser o único participante direto dos eventos a realizar exame desse tipo; nomes frequentemente ligados ao caso, como Penniston, Burroughs e Halt, teriam recusado convites para testes semelhantes. Warren vê essa recusa como indício de que seu depoimento permanece consistente.
Divergências internas e questionamentos
A recepção às novas declarações é marcada por divisão. Pesquisadores e entusiastas que acompanham o caso há décadas consideram o relato de Warren vital para compreender dimensão total dos acontecimentos, sobretudo pela menção a entidades. Já críticos apontam inconsistências históricas e contradições em pronunciamentos anteriores do ex-policial. O escritor Peter Robbins, coautor de obra com Warren, declarou publicamente ter sido enganado. O ex-funcionário do Ministério da Defesa britânico Nick Pope apoiou a crítica, ampliando a disputa sobre confiabilidade do depoente.
Fóruns on-line refletem esse ceticismo. Usuários questionam ausência de evidências materiais, como filmes, fotos, destroços ou registro clínico das supostas entidades. A comparação de Warren entre as figuras observadas e o personagem de animação Casper é frequentemente citada como indicativo de relato influenciado por referências culturais. Comentários também mencionam a linguagem considerada confusa em entrevistas recentes. Defensores, por sua vez, sugerem que traumas pessoais e longa exposição a críticas explicariam eventuais contratempos na comunicação.

Imagem: Internet
Reconhecimento médico de exposições a UAP
Apesar da controvérsia, parte dos analistas destaca precedente relevante a favor da realidade de pelo menos parte dos eventos. Em 2015, o Departamento de Assuntos de Veteranos dos Estados Unidos concedeu incapacidade médica total ao ex-sargento John Burroughs, reconhecendo problemas de saúde atribuídos à exposição a “Fenômeno Aéreo Não-Identificado” (UAP, sigla em inglês). A decisão judicial é vista como admissão indireta de que militares enfrentaram situação anormal naquelas noites de 1980, ainda que não corrobore versão específica de pouso em Capel Green nem de contato biológico.
Detalhes de produção e distribuição do filme
Capel Green é o primeiro longa-documental dirigido por Dion M. Johnson pela produtora Indigo Transmit Films Ltd. O projeto ganhou divulgação inicial em 2018, com lançamento de trailer em plataformas digitais. Desde então, a equipe divulgou bastidores nas redes sociais enquanto concluía entrevistas adicionais. A versão final, classificada como documentário-drama no Internet Movie Database (IMDb), recebeu exibições pontuais em salas do Reino Unido e da Austrália. Até o momento, não há contrato de distribuição comercial amplo nem calendário para serviços de streaming.
Repercussão na comunidade ufológica
Especialistas em investigação de fenômenos aéreos não identificados avaliam que o caso Rendlesham permanece como referência central em pesquisas britânicas. A aparição constante de novos depoimentos, documentos ou análises técnicas — mesmo quatro décadas depois — evidencia agilidade limitada das autoridades em encerrar especulações. Alguns estudiosos sustentam que o conjunto de relatos indica controle inteligente de objeto aéreo, enquanto céticos mantêm interpretções baseado em fontes luminosas convencionais. A ausência de evidência física conclusiva impede consenso.
O debate sobre acobertamento militar, motivado por alegações de remoção de registros de radar e suposta retenção de filmagens, também segue aberto. Defensores da transparência classificam o caso como emblemático na discussão sobre liberação de arquivos militares antigos. Já setores oficiais argumentam que não há ameaça à segurança nacional comprovada, o que justificaria encerramento de investigações formais.
Pontuação dos principais elementos atuais
- Data original do incidente: 26 a 28 de dezembro de 1980.
- Local: Floresta de Rendlesham, Suffolk, Inglaterra, próxima às bases da RAF Bentwaters e Woodbridge.
- Testemunhas iniciais: Jim Penniston, John Burroughs, Ed Cabansag e tenente-coronel Charles Halt.
- Novos depoentes destacados no filme: Larry Warren e Steve Longero.
- Principais alegações recentes: pouso de nave triangular em Capel Green, aparição de três entidades humanoides, existência de filmagens militares e operação de sigilo prolongado.
- Provas materiais apresentadas: nenhuma tornada pública até o momento.
- Reações oficiais: Ministério da Defesa britânico considera o caso encerrado; governo dos EUA reconheceu em 2015 problemas de saúde de Burroughs relacionados a UAP.
Cenário futuro
A expectativa de nova documentação permanece condicionada à eventual divulgação de material audiovisual citado por Larry Warren ou à liberação de registros militares retidos. Enquanto isso, Capel Green amplia visibilidade do caso, reacendendo interesse midiático e atraindo questionamentos sobre transparência governamental em temas associados a objetos voadores não identificados. Observadores apontam que futuras estreias comerciais ou disponibilização em plataformas on-line poderão ampliar o público e, consequentemente, a pressão por esclarecimentos adicionais.
Como resultado, o incidente da Floresta de Rendlesham mantém status singular na ufologia europeia. Quarenta e cinco anos após as ocorrências originais, a soma de relatórios oficiais, depoimentos divergentes e hipóteses concorrentes continua a alimentar investigações independentes e debates na comunidade científica e no público interessado em fenômenos aéreos não explicados.
Fonte: Portal Vigília