Quem: NASA e Blue Origin
O quê: retomada da missão VIPER, com novo contrato de US$ 190 milhões para levar o rover ao Polo Sul da Lua
Quando: anúncio oficial em 19 de setembro de 2025; pouso previsto até o fim de 2027
Onde: Polo Sul lunar, região da cratera Nobile, próximo ao Mons Mouton
Como: lançamento a bordo do módulo de pouso Blue Moon MK1, dentro do programa Commercial Lunar Payload Services (CLPS)
Por quê: mapear gelo de água e outros voláteis, apoiar o programa Artemis e avançar a utilização de recursos in situ
Contrato devolve vida ao VIPER
A NASA confirmou, em 19 de setembro de 2025, que o rover VIPER (Volatiles Investigating Polar Exploration Rover) voltará ao cronograma após ter sido cancelado em julho de 2024. O acordo, identificado como CS-7, foi firmado com a Blue Origin por US$ 190 milhões. O CS-7 faz parte do CLPS, iniciativa que contrata empresas norte-americanas para transportar cargas científicas à superfície lunar. A Blue Origin torna-se, assim, responsável pela arquitetura completa de missão, incluindo lançamento, pouso de precisão e entrega segura do veículo.
Do cancelamento à retomada
A trajetória do VIPER foi marcada por revisões orçamentárias e adiamentos. Originalmente estimada em US$ 433,5 milhões, a missão acumulou aumento de custos, ultrapassando US$ 600 milhões. Em julho de 2024, a NASA optou por interrompê-la para evitar novos gastos, apesar de o rover já se encontrar construído e com testes acústicos concluídos. A decisão gerou ampla reação na comunidade científica, pois o veículo é considerado peça chave para compreender reservas hídricas lunares. Depois de reavaliar riscos e vantagens, a agência escolheu uma rota comercial que diminui despesas adicionais e transfere parte dos riscos técnicos à iniciativa privada.
Blue Moon MK1: plataforma de pouso
O módulo Blue Moon MK1, projetado pela Blue Origin, poderá entregar até três toneladas de carga em qualquer ponto da superfície. O veículo mede 8,05 m de altura e 3,08 m de diâmetro, dimensões compatíveis com a carenagem de 7 m do foguete New Glenn. Propulsado pelo motor BE-7, que utiliza oxigênio e hidrogênio líquidos, o MK1 fornece capacidade de aterrissagem com erro inferior a 100 m, requisito essencial para atingir áreas permanentemente sombreadas (PSRs) sem exposição direta à luz solar.
Interfaces padronizadas localizadas no deck superior e na seção traseira oferecem energia regulada, estruturas de fixação e enlaces de dados RS-485/RS-422, favorecendo a integração do VIPER. A primeira missão do MK1, prevista ainda para 2025, servirá como validação crítica da tecnologia antes de o contrato para transportar o rover ser definitivamente exercido.
Sinergia técnica
Além de gerenciar o pouso, a Blue Origin controla a Honeybee Robotics, responsável pelo TRIDENT, sistema de perfuração a bordo do VIPER. Essa relação vertical simplifica processos de integração entre o módulo de pouso e o equipamento científico, reduzindo interfaces desconhecidas e encurtando prazos de teste.
Características do rover VIPER
Com dimensões equivalentes às de um carrinho de golfe (1,4 m × 1,4 m × 2 m) e peso aproximado de 430 kg, o VIPER foi projetado para operar durante 100 dias terrestres em ambientes de baixíssima temperatura. O conjunto científico inclui quatro instrumentos:
- TRIDENT: perfuratriz rotativa-percussiva capaz de alcançar 1 m de profundidade, equipada com dentes de carboneto e sensor de temperatura na extremidade;
- MSOLO: espectrômetro de massa que avalia composição química dos solos e identifica moléculas de água;
- NIRVSS: espectrômetro de infravermelho próximo dedicado a distinguir minerais e gelos, diferenciando água de hidroxila;
- NSS: espectrômetro de nêutrons que detecta hidrogênio, sugerindo presença e distribuição de água.
Durante a missão, o rover deverá percorrer vários quilômetros, alternando entre regiões permanentemente sombreadas, áreas de iluminação intermitente e zonas expostas continuamente ao Sol. Em trechos escuros, operará exclusivamente com energia de bateria, retomando a recarga ao regressar a locais iluminados.

Imagem: Internet
Destino: cratera Nobile
O campo-alvo situa-se na porção oeste da cratera Nobile, adjacente ao Mons Mouton, região onde a luz solar atinge incidências mínimas. Temperaturas chegam a níveis apenas poucas dezenas de graus acima do zero absoluto, permitindo que depósitos de gelo permaneçam estáveis por bilhões de anos. Observações de missões como Lunar Prospector, LRO, Chandrayaan-1 e LCROSS indicam concentração significativa de gelo misturado aos regolitos. Estimativas calculam 2,9 × 10¹² kg de água no primeiro metro das PSRs.
Por que mapear gelo lunar?
Compreender distribuição, forma física e pureza do gelo no subsolo lunar é fundamental para futuras operações de extração de recursos in situ. A água pode ser separada em hidrogênio e oxigênio, formando propelentes ou servindo a processos químicos e metalúrgicos. Um estudo independente aponta demanda potencial de 450 t anuais de propelente derivado da Lua, correspondente a 2.450 t de água processada e possível receita de US$ 2,4 bilhões por ano.
Métodos avaliados incluem aquecimento térmico por espelhos instalados na borda de crateras e perfuração com trados ocos, seguidos de vaporização controlada do gelo. O VIPER fornecerá dados que orientem qual técnica apresenta melhor viabilidade econômica e energética.
Programa CLPS: novo paradigma
Lançado em 2018, o Commercial Lunar Payload Services permite contratos de valor máximo combinado de US$ 2,6 bilhões até 2028. A NASA atua como cliente entre diversos, fomentando competição e diminuindo custos. Desde então, 11 entregas foram atribuídas a cinco fornecedores, envolvendo mais de 50 experimentos científicos ou tecnológicos.
No modelo CLPS, a agência estima desembolsar cerca de US$ 1 milhão por quilograma entregue à Lua, cifra sujeita a revisão após as primeiras métricas de voo. A missão IM-1 de 2024 marcou a primeira aterrissagem comercial exitosa, solidificando o conceito de transporte terceirizado.
Estrutura do contrato CS-7
O acordo com a Blue Origin é dividido em duas fases. A etapa inicial cobre o projeto de acomodações específicas e a demonstração do método para descarregar o rover. Concluídas essas tarefas, a NASA avaliará os resultados e o desempenho do MK1 em sua missão inaugural. Apenas então decidirá se exerce a opção de voo que levará efetivamente o VIPER à superfície lunar. Essa abordagem, segundo a agência, reduz risco técnico e limita obrigações financeiras até que provas de capacidade estejam disponíveis.
Linha do tempo até 2027
Entre 2025 e 2026, equipes da Blue Origin finalizarão integração mecânica e eletrônica entre o rover e o módulo de pouso, realizarão testes vibracionais e de compatibilidade eletromagnética e simularão secuências de separação. Concluída a missão pathfinder do MK1, prevista ainda para 2025, a NASA emitirá revisão crítica de prontidão. Se todos os marcos forem aprovados, o lançamento do VIPER ocorrerá a bordo do New Glenn com janela para 2027, garantindo pouso antes do encerramento do mesmo ano.
Sintonia com o programa Artemis
A missão VIPER complementa o objetivo do Artemis de estabelecer presença humana sustentável na Lua. Informações sobre localização e extração de água fundamentarão decisões sobre locais de pouso tripulados, planejamento logístico e desenvolvimento de infraestruturas de suporte à vida. Com Artemis II programado para não antes de abril de 2026 e Artemis III agendado para meados de 2027, dados gerados pelo rover poderão influenciar diretamente as estratégias de superfície adotadas para os primeiros astronautas que retornarão ao Polo Sul lunar.
Impacto científico e tecnológico
Além de identificar reservas hídricas, o VIPER estudará a origem de voláteis na Lua, fornecendo indícios sobre a entrega de água por cometas ou processos endógenos. As operações em ambientes extremos testarão sistemas de mobilidade, perfuração autônoma e gestão térmica, tecnologias transferíveis a expedientes em Marte e asteroides. Os mapas de distribuição de gelo serão os primeiros recursos detalhados de um corpo celeste que não a Terra, avançando tanto geologia planetária quanto planos de exploração tripulada.
Próximos marcos
Com o anúncio oficial firmado, as equipes técnicas organizam agora a sequência de revisões de design, enquanto a Blue Origin finaliza o manifest da missão de demonstração do Blue Moon MK1. Paralelamente, a NASA ajusta cronogramas de telemetria, protocolos de operação em superfície e rotinas de análise de dados. A agência também desenvolverá estratégias para compartilhar resultados científicos com a comunidade global, assegurando que descobertas sobre gelo lunar alimentem futuras propostas de pesquisa e aplicações comerciais.
Fonte: NASA