Washington, 23 out. 2025 – A Agência Nacional de Administração Espacial dos Estados Unidos (NASA) colocou em operação, de forma discreta, a Rede Internacional de Alerta de Asteroides (IAWN, na sigla em inglês) a fim de acompanhar o objeto interestelar designado 3I/ATLAS (C/2025 N1). A decisão foi divulgada apenas por meio de uma nota técnica no boletim eletrônico MPEC 2025-U142, publicado pelo Minor Planet Center (MPC), órgão ligado ao Observatório Astrofísico Smithsonian, em 22 de outubro às 21h08 UT. A medida marca a primeira vez que um visitante oriundo de fora do Sistema Solar é incluído em uma campanha de observação de nível de defesa planetária.
Origem do alerta
O MPC relatou que o 3I/ATLAS apresenta comportamento fotométrico não usual. Na prática, telescópios registram que o ponto de maior brilho do objeto não coincide exatamente com o centro de massa estimado a partir de sua trajetória. Essa discrepância sugere que a luminosidade, possivelmente gerada por jatos de voláteis ou outro fenômeno, parte de um local ligeiramente deslocado em relação ao corpo principal. Embora variações semelhantes já tenham sido vistas em alguns cometas, a incerteza ganha relevância quando aplicada a um corpo proveniente do espaço interestelar, cujo histórico de atividade é desconhecido.
O comunicado do MPC também informa que o último registro fotográfico oficial do 3I/ATLAS data de 27 de agosto de 2025, ainda em fase de aproximação. Com base em cálculos orbitais, o periélio (ponto de maior proximidade do Sol) ocorrerá em 10 de dezembro, e a passagem mais próxima da Terra está prevista para 29 de janeiro de 2026, a cerca de 0,15 unidade astronômica (aproximadamente 22 milhões de quilômetros).
Cronograma da campanha IAWN
A circular MPEC detalha o calendário de ações:
- 10 de novembro – workshop técnico preparatório com representantes de observatórios participantes;
- 25 de novembro – reunião de início das operações;
- De 27 de novembro a 27 de janeiro – coleta de dados contínua por telescópios em diversos continentes;
- 3 de fevereiro – teleconferência de encerramento para avaliação dos resultados.
Durante o período de observação, o 3I/ATLAS deverá atingir seu pico de brilho aparente, facilitando medições de posição, velocidade e variações na cauda gasosa ou de poeira. A IAWN prevê a utilização de instrumentos instalados no Havaí, no Chile, na Espanha, na Austrália, no Japão e na África do Sul, entre outros, para cobrir 24 horas de acompanhamento ininterrupto.
Justificativa oficial: teste astrométrico
Em resposta a questionamentos encaminhados por agências de notícias, a NASA classificou a iniciativa como “exercício de aprimoramento de métodos astrométricos”. Segundo porta-vozes, a campanha servirá para validar algoritmos capazes de distinguir pequenas perturbações na trajetória de objetos que emitem luminosidade assimétrica. Esse tipo de treinamento, explicam técnicos da agência, é relevante para futuras situações em que um asteroide de origem interna ao Sistema Solar apresente alterações de rota inesperadas que possam elevar o risco de impacto.
Embora a prática de exercícios seja comum na comunidade de defesa planetária, analistas observam que ações do mesmo porte normalmente ocorrem com asteroides potencialmente perigosos, e não com objetos interestelares. Até hoje, somente outros dois visitantes vindos de fora do Sistema Solar – 1I/‘Oumuamua, detectado em 2017, e 2I/Borisov, descoberto em 2019 – foram amplamente monitorados, mas nenhum deles desencadeou a ativação formal da IAWN.
Anomalias que motivam atenção redobrada
A circular do MPC usa linguagem estritamente técnica, porém deixa claro que os dados atuais são inconclusivos sobre o comportamento do 3I/ATLAS. Os pontos de maior incerteza incluem:
- Desvio fotométrico: diferença entre o centroide luminoso e o barycentro dinâmico observado.
- Aceleração não gravitacional: leve alteração de velocidade que não se ajusta perfeitamente às forças conhecidas de gravidade solar e radiação.
- Composição desconhecida: espectros iniciais indicam mistura incomum de voláteis, distinta de cometas de longo período típicos, mas sem confirmação definitiva.
De acordo com pesquisadores que analisam os parâmetros divulgados, as anomalias podem resultar de processos naturais, como sublimação diferenciada de gelo em profundidade, ejeção de partículas finas ou fragmentação parcial do núcleo. Contudo, a combinação dos fatores, somada à origem interestelar e à passagem relativamente próxima da órbita terrestre, sustenta a decisão de intensificar o monitoramento.
Repercussão no meio acadêmico
O astrofísico Avi Loeb, professor da Universidade Harvard e ex-diretor do Departamento de Astronomia da instituição, vinha publicando artigos em que sugere a possibilidade de o 3I/ATLAS ter natureza artificial. Segundo ele, certos desvios na trajetória lembram aqueles observados em 1I/‘Oumuamua, objeto que apresentou aceleração não explicada apenas por jatos de gás. Loeb defende que organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas, criem comitês permanentes para lidar com eventuais detecções de tecnologias não humanas em órbita solar.
Boa parte da comunidade astronômica considera prematuras as conclusões levantadas pelo pesquisador, apontando que processos cometários podem explicar os dados sem recorrer à hipótese tecnológica. Ainda assim, a formalização de uma campanha global de defesa planetária reforça o interesse em esclarecer rapidamente as particularidades do 3I/ATLAS, seja qual for sua origem.
Processo de observação e segurança
A IAWN opera como um consórcio voluntário de agências espaciais, observatórios e instituições de pesquisa. Em cenários de risco real, o grupo coleta informações, produz estimativas de probabilidade de impacto e aconselha governos sobre possíveis respostas. No caso do 3I/ATLAS, não há até o momento projeção de colisão com a Terra, e nenhuma manobra de espaçonaves ou satélites foi anunciada. O foco permanece na obtenção de dados precisos para confirmar a órbita e caracterizar propriedades físicas.
Entre os instrumentos mobilizados estão o telescópio Pan-STARRS, no Havaí, responsável pela detecção original, o Large Synoptic Survey Telescope (LSST), no Chile, previsto para iniciar operações científicas preliminares durante a janela da campanha, e o Very Large Telescope (VLT), também no Chile, que deve realizar espectroscopia de alta resolução. Radiotelescópios, como o complexo de antenas Goldstone, nos Estados Unidos, avaliam a possibilidade de medições de radar caso o brilho e a distância permitam retorno de sinal suficiente.
Imagem: ovnihoje
Dados orbitais e distância mínima
O conjunto de efemérides divulgado na noite de 22 de outubro indica os seguintes parâmetros:
- Excentricidade: 1,12 (característica de trajetória hiperbólica, incompatível com objetos ligados ao Sistema Solar);
- Inclinação: 47,3 graus em relação ao plano da eclíptica;
- Velocidade heliocêntrica antes da entrada: 26 km/s;
- Distância mínima estimada à Terra: 0,15 UA em 29 de janeiro de 2026.
A incerteza na distância mínima permanece em torno de ±0,002 UA (cerca de 300 mil quilômetros), margem considerada segura por critérios de defesa planetária, mas que pode alterar o brilho aparente e a viabilidade de determinados experimentos de radar.
Comunicação ao público
O procedimento adotado pela NASA contrasta com anúncios anteriores envolvendo objetos potencialmente arriscados. Em iniciativas passadas, como a simulação de impacto do asteroide 2023 PDC, a agência realizou coletivas de imprensa e divulgou vídeos educativos. Desta vez, o comunicado restringiu-se ao MPEC, meio de circulação frequente entre astrônomos profissionais, porém pouco acessível ao público leigo.
Na avaliação de especialistas em divulgação científica, a ausência de conferências não implica necessariamente tentativa de ocultação, mas evidencia preocupação em evitar antecipações de cenários especulativos enquanto dados definitivos não estão disponíveis. Ainda assim, a decisão gerou debates em redes sociais, impulsionados por declarações de Loeb e de outros pesquisadores que apontam a necessidade de maior transparência.
Referências anteriores de objetos interestelares
O primeiro corpo classificado como interestelar, 1I/‘Oumuamua, medindo cerca de 100 metros de comprimento, foi descoberto em outubro de 2017. Ele não apresentou coma visível de poeira ou gás, diferentemente de cometas convencionais, mas exibiu leve aceleração não gravitacional, atribuída por vários pesquisadores à sublimação de gelo de hidrogênio ou efeitos de pressão de radiação solar.
Em 2019, o 2I/Borisov tornou-se o segundo visitante detectado. Seu comportamento, mais parecido ao de cometas de longo período, ajudou a reforçar hipóteses de que ‘Oumuamua fosse um exemplar atípico dentro de uma população potencialmente extensa de objetos interestelares. O 3I/ATLAS, portanto, é apenas o terceiro corpo confirmado a surgir de fora da nuvem de Oort, conferindo rara oportunidade de estudo.
Próximos passos e expectativa de resultados
A primeira etapa decisiva será a verificação, em novembro, da previsão de luminosidade perto do periélio. Se o objeto mostrar atividade com jatos pronunciados, diferenças de posição até agora pequenas podem ampliar-se, afetando o cálculo final da curva orbital. Em paralelo, espectros de média resolução buscarão identificar assinaturas químicas. Compostos como monóxido de carbono, cianeto e dióxido de carbono são comuns em cometas recém-chegados; distribuição atípica desses elementos pode corroborar a impressão inicial de que o material é distinto.
O relatório final da IAWN deve ser encaminhado à Força-Tarefa de Ameaças de Objetos Próximos da Terra da ONU e a agências espaciais parceiras em março de 2026. Há expectativa de que uma versão resumida seja disponibilizada publicamente, conforme políticas de dados abertos adotadas pela NASA. Entretanto, detalhes orbitais refinados podem permanecer sob autorização controlada até que todos os observatórios participantes validem as medições.
Conclusão parcial
Até o momento, não existe indicação concreta de risco de impacto ou de origem artificial do 3I/ATLAS. A relevância científica do objeto, aliada a pequenas incertezas dinâmicas, sustenta a decisão de mobilizar a infraestrutura global de defesa planetária. A comunidade astronômica aguarda as primeiras séries de imagens de alta resolução, previstas para início de dezembro, que deverão esclarecer se as variações de brilho decorrem de processos naturais ou de fatores ainda não explicados.
Fonte: OVNI Hoje





















