Ex-piloto sustenta que a Índia concebeu o primeiro avião há 7.000 anos durante congresso científico

Um trabalho apresentado na edição de 2015 do Indian Science Congress trouxe à tona uma polêmica sobre as origens da aviação. O estudo, assinado pelo capitão aposentado Anand Bodas, afirma que a Índia desenvolveu aeronaves cerca de 7.000 anos atrás. Segundo o autor, esses veículos não só eram capazes de voar, mas também podiam permanecer estacionários no ar, realizar movimentos em qualquer direção e até se deslocar para outros planetas.

Detalhes da tese apresentada

No documento intitulado “Ancient Indian Aviation Technology” (Tecnologia da Aviação Indiana Antiga), Bodas divide a autoria com outro pesquisador — cujo nome não é especificado no material disponibilizado. O ex-piloto atribui a invenção da primeira aeronave a Maharshi Bharadwaj, figura descrita em textos antigos. De acordo com a exposição, esse pioneiro teria detalhado máquinas aéreas conhecidas como vimanas, termo recorrente em escrituras sânscritas.

De acordo com Bodas, a aeronave descrita por Bharadwaj tinha dimensões básicas de 18 metros por 18 metros. Em versões mais avançadas, as medidas ultrapassariam 60 metros, conferindo-lhes porte semelhante ao de aviões comerciais de grande capacidade. O equipamento, ainda segundo a tese, seria impulsionado por 40 motores de menor porte distribuídos ao longo da estrutura.

O autor sustenta que as aeronaves possuíam um sistema de exaustão “flexível”, argumento usado para afirmar que a tecnologia antiga seria mais sofisticada do que a conheci¬da pela aviação moderna. Bodas menciona ainda a existência de um suposto radar, chamado rooparkanrahasya, que permitiria exibir o perfil real dos objetos voadores e, assim, orientar a navegação.

Além dos aspectos mecânicos, a apresentação explorou práticas atribuídas aos pilotos da época. Segundo Bodas, os operadores dessas aeronaves consumiam leite de búfala, vaca e ovelha para manter a saúde em longos voos. As vestimentas teriam sido confeccionadas a partir de vegetação local, medida descrita como protetora frente às condições de voo.

O conjunto de informações citado no congresso teria sido registrado em uma obra denominada Vimana Samhita, atribuída a Maharshi Bharadwaj. Em sua argumentação, Bodas afirma que as descrições presentes no texto constituem evidência de um sistema aeroviário avançado na Índia antiga.

Contexto da conferência

O Indian Science Congress, realizado anualmente, reúne milhares de acadêmicos de diversas áreas. A entidade responsável pelo evento, Indian Science Congress Association (ISCA), soma mais de 30 mil integrantes e tem como missão promover o desenvolvimento científico no país.

Em 2015, o encontro incluiu um simpósio dedicado à “Ciência Indiana Antiga através do Sânscrito”. Nesse espaço, foram apresentados trabalhos que buscavam relacionar conhecimentos descritos em textos tradicionais com a ciência contemporânea. O estudo de Bodas foi um dos que despertaram maior debate.

Repercussão entre pesquisadores

Parte da comunidade científica se posicionou contra a presença do artigo na programação. Diversos participantes assinaram uma petição online classificando a apresentação de Bodas como exemplo de pseudo-ciência. Os signatários argumentaram que a inclusão do estudo comprometeria a credibilidade do congresso e manifestaram preocupação de que o espaço tivesse sido aberto em função de orientações de autoridades nacionais ligadas a correntes nacionalistas hindus.

A petição não impediu que a palestra ocorresse, mas intensificou o debate acerca de critérios de seleção de trabalhos para o evento. Para os críticos, a falta de evidências empíricas que sustentem a hipótese de máquinas voadoras milenares contrasta com o objetivo do congresso de estimular pesquisas baseadas em método científico.

Ponto de vista de outros palestrantes

Em meio às controvérsias, o cientista da computação Vijay Bhatkar manifestou opinião favorável à discussão de contribuições antigas em encontros científicos. Ao se referir ao simpósio, Bhatkar salientou que, em 102 anos de história do Indian Science Congress, esta foi a primeira vez em que se reservou uma sessão estruturada para examinar registros técnicos da antiguidade indiana. Para o pesquisador, integrar tais temas deveria ser prática regular em eventos científicos do país.

Outro conferencista presente ao simpósio argumentou que matemáticos da Índia antiga teriam desenvolvido a álgebra e antecipado o teorema de Pitágoras, conquistas comumente atribuídas a acadêmicos de outras regiões. Embora não tenha apresentado documentos adicionais durante a sessão relatada, a declaração ampliou o debate sobre o reconhecimento de possíveis descobertas originadas no subcontinente.

Ceticismo e elementos culturais

O trabalho de Bodas incorpora referências a narrativas tradicionais que há muito circulam em parte da literatura indiana. Textos clássicos, como os épicos Mahabharata e Ramayana, contêm passagens sobre veículos aéreos denominados vimanas, frequentemente citados por entusiastas de teorias alternativas. Entre historiadores e arqueólogos, contudo, prevalece a falta de provas arqueológicas que confirmem a existência desses dispositivos.

No caso específico do radar rooparkanrahasya, a apresentação mencionou suas funcionalidades, mas não forneceu documentos originais ou artefatos físicos que sustentem a descrição. Da mesma forma, não houve demonstração de como os supostos 40 motores teriam sido construídos, abastecidos ou sincronizados em uma aeronave de grande porte.

Em declarações posteriores ao congresso, participantes contrários à sessão afirmaram que o debate sobre tecnologia antiga deve ser conduzido com rigor metodológico, distinguindo mitologia de evidências verificáveis. Defensores da inclusão de tais temas nas conferências argumentam que investigações a partir de manuscritos antigos podem levar a descobertas insuspeitas quando submetidas à análise moderna.

Discussões sobre identidade nacional

A controvérsia também se inseriu na discussão sobre construção de identidade cultural. Críticos acusaram setores do governo indiano, à época comandados por forças de orientação nacionalista hindu, de fomentar a difusão de teses que reforcem um orgulho histórico, mesmo na ausência de comprovação científica. Já os apoiadores entendem que reconhecer e investigar relatos antigos é parte fundamental do processo de valorização do patrimônio intelectual indiano.

Embora a apresentação de Bodas não tenha resultado em mudanças no programa oficial do congresso, a reação levantou questionamentos sobre a fronteira entre pesquisa científica, tradição cultural e políticas de Estado. Para os opositores, admitir palestras sem respaldo empírico amplia riscos de relativizar o método científico em nome de narrativas identitárias. Para os favoráveis, a exclusão sumária de textos históricos limitaria a oportunidade de reinterpretar avanços passados à luz de novas metodologias.

Alcance da polêmica

O episódio transcendeu os limites da reunião acadêmica, ganhando destaque em veículos de imprensa internacionais. A alegação de que aeronaves capazes de voo interestelar teriam sido concebidas há milênios chamou a atenção de portais dedicados ao debate sobre arqueologia alternativa e ufologia. Esses espaços costumam relacionar descrições míticas de todo o mundo ao conceito de civilizações avançadas ou de influência extraterrestre no passado.

No texto que divulgou o caso, o veículo que repercutiu a conferência questionou se tais relatos deveriam ser lidos apenas como mitologia ou se poderiam revelar conhecimentos tecnológicos atualmente incompreendidos. Ao mesmo tempo, ressaltou que não endossa — total ou parcialmente — a veracidade das alegações, limitando-se a reportar o ocorrido.

Elementos técnicos mencionados

Dimensões: Bodas citou estruturas de 18 × 18 metros, chegando a mais de 60 metros em versões maiores.
Sistema de propulsão: 40 motores distribuídos ao longo da fuselagem.
Exaustão flexível: mecanismo alegadamente desconhecido na aviação contemporânea.
Radar rooparkanrahasya: dispositivo destinado a exibir o contorno real de objetos voadores.
Alimentação dos pilotos: leite de búfala, vaca e ovelha.
Trajes: vestimentas produzidas a partir de vegetação.

Todos esses itens foram apresentados como citações do suposto manuscrito Vimana Samhita. Não há, porém, registros de que o documento tenha sido submetido a análise independente de especialistas em paleografia ou engenharia.

Reações posteriores ao evento

Mesmo após o encerramento do congresso, a comunidade científica local continuou debatendo a pertinência de abrir espaço para teorias não corroboradas. Instituições de ensino superior e grupos de pesquisa em história da ciência publicaram notas reiterando a necessidade de critérios claros para admissão de trabalhos em fóruns acadêmicos.

Pesquisadores favoráveis a Bodas defenderam a replicação de estudos interdisciplinares que relacionem textos antigos a possibilidades tecnológicas. Eles sustentam que mais traduções e avaliações filológicas podem ajudar a determinar se certas passagens de antigos compêndios descrevem fatos, alegorias ou extrapolações poéticas.

Entre os que se opõem, domina a percepção de que o perigo reside em validar conjecturas sem respaldo empírico, o que, na prática, diluiria a distinção entre ciência e crença. Tais críticos argumentam que, antes de considerar um registro textual como evidência de atividade tecnológica, seria necessário encontrar vestígios materiais — ferramentas, componentes ou resquícios de infraestrutura — compatíveis com as descrições.

Desdobramentos na programação do congresso

Até o momento do debate, a ISCA não anunciou mudanças formais em seu processo de avaliação de trabalhos. Representantes da entidade ressaltaram o compromisso de incentivar discussões amplas, mas declararam buscar equilíbrio entre liberdade de pesquisa e rigor metodológico. Não foi informado se as temáticas envolvendo ciência antiga em sânscrito permanecerão como parte fixa da programação em edições futuras.

Permanência do tema na esfera pública

A divulgação de teorias sobre vimanas e tecnologias ancestrais encontra espaço recorrente em círculos populares, redes sociais e produções audiovisuais. O episódio envolvendo o capitão Anand Bodas intensificou a visibilidade dessas narrativas, especialmente no contexto indiano. Enquanto uma parcela do público interpreta as alegações como evidência de uma suposta supremacia tecnológica do passado, outra considera a discussão exemplo de apropriação de mitos para fins identitários.

Em meio a interpretações divergentes, a falta de provas arqueológicas consolida-se como elemento central do ceticismo. Sem artefatos que confirmem a existência de motores, ligas metálicas ou instrumentos de navegação previamente descritos, a hipótese permanece no campo das conjecturas baseadas em referências literárias.

Conclusão provisória do debate

O caso do trabalho apresentado em 2015 evidencia o desafio de reconciliar tradições culturais com exigências científicas contemporâneas. A narrativa de aeronaves desenvolvidas há milênios se apoia em textos clássicos e em interpretações que extrapolam a fronteira entre história e mitologia. A ausência de evidências materiais impede a validação acadêmica, mas a força cultural das histórias mantém viva a discussão.

Para especialistas que criticam a apresentação, preservar a credibilidade de fóruns científicos requer filtros metodológicos que assegurem a consistência dos temas abordados. Para aqueles que defendem a inclusão de estudos sobre ciência antiga, investigar descrições contidas em manuscritos pode revelar perspectivas inexploradas sobre o desenvolvimento do conhecimento humano.

Nesse cenário, a polêmica permanece aberta, evidenciando as tensões entre rigor científico, patrimônio cultural e construção de identidades nacionais.

Fonte: mysteriousuniverse.org

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