Arrebatamento volta ao centro dos debates com previsão para 23 e 24 de setembro

Previsões sobre o suposto “fim do mundo” atravessam séculos, assumem formas diversas e, invariavelmente, geram ondas de ansiedade coletiva. Entre cálculos de calendários antigos, interpretações bíblicas e alertas de colapso tecnológico, cresce uma nova expectativa relacionada ao chamado arrebatamento, fenômeno descrito em certos círculos cristãos como o momento em que Jesus Cristo retornaria para levar os fiéis ao céu. A data mais recente apontada para esse evento foi divulgada pelo sul-africano Joshua Mhlakela, que fixou os dias 23 e 24 de setembro como o tempo decisivo para a humanidade. A mensagem ganhou visibilidade nas redes sociais, reacendendo discussões sobre o significado, as consequências e o histórico de previsões semelhantes.

Histórico de anúncios apocalípticos

Ao longo da história moderna, episódios de expectativa apocalíptica se repetiram com frequência. Em 1999, o chamado bug do milênio levou governos, empresas e cidadãos comuns a se preparar para uma possível falha generalizada de sistemas de computação quando os relógios digitais passassem de 1999 para 2000. O receio de que equipamentos médicos, bancos e sistemas de energia deixassem de funcionar ocupou pautas de noticiários e motivou manuais de sobrevivência. No entanto, a virada do século transcorreu sem grandes incidentes.

Pouco mais de uma década depois, 2012 ganhou os holofotes após interpretações populares do calendário maia. A data de 21 de dezembro daquele ano foi entendida por muitos como o fim definitivo da civilização terrena. Documentários, livros e filmes centraram a narrativa em possíveis cataclismos, mas o dia passou sem registros de acontecimentos extraordinários.

Esses dois exemplos reforçam uma sequência histórica de datas que mobilizam multidões e, posteriormente, são incorporadas ao rol de previsões não concretizadas. A reincidência dessas expectativas mostra que a crença em eventos abruptos de transformação global permanece ativa, independentemente das falhas anteriores.

Quem é Joshua Mhlakela

Dentro desse contexto, o nome de Joshua Mhlakela chamou atenção depois que vídeos publicados no TikTok começaram a circular internacionalmente. Em suas gravações, o sul-africano afirma que “Deus vai resgatar os cristãos do mundo” nos dias 23 e 24 de setembro, deixando a Terra “irreconhecível” após o julgamento divino. Segundo o pregador, o arrebatamento marcaria a separação definitiva entre aqueles que acreditaram em Cristo e os demais habitantes do planeta.

Não há dados consolidados sobre o número de seguidores de Mhlakela, mas relatos em redes sociais indicam que a mensagem alcançou usuários em diferentes continentes. Comentários nas postagens variam entre apoio entusiasmado, curiosidade e descrença aberta. A visibilidade obtida demonstra o alcance de discursos religiosos que se popularizam a partir de plataformas digitais, sem necessariamente depender de estruturas institucionais tradicionais.

Reações de fiéis e impactos na vida cotidiana

O discurso de Mhlakela não se limitou a previsões genéricas. Segundo relatos publicados em perfis de redes sociais e ecoados por veículos locais, algumas pessoas decidiram adotar medidas drásticas em antecipação ao arrebatamento. Há registros de indivíduos que venderam automóveis, solicitaram demissão ou colocaram imóveis à venda. Uma mulher mencionada em comentários públicos teria se desfazido da própria casa, argumentando não haver motivo para manter bens materiais se tudo estivesse prestes a perder o valor.

Esse tipo de reação não é novidade quando previsões apocalípticas ganham força. A convicção de que a vida terrena está na iminência do fim tende a provocar decisões de ruptura com rotinas profissionais, planejamento financeiro e vínculos sociais. No caso atual, a amplitude dessa mobilização ainda é incerta, mas a repercussão de vendas de patrimônio indica que a mensagem atingiu não apenas o nível das crenças, mas também ações concretas.

Como o arrebatamento é descrito

O conceito de arrebatamento se baseia em interpretações de passagens bíblicas, especialmente da Primeira Carta aos Tessalonicenses e do Livro do Apocalipse. Entre os grupos que defendem essa ideia, o processo seria iniciado pela ressurreição dos cristãos já falecidos. Seus corpos, segundo a crença, seriam reunidos aos fiéis vivos e ambos ascenderiam aos céus, onde receberiam a chamada glorificação.

Enquanto esse movimento ocorreria, a Terra passaria por um período descrito como “ira de Deus”. Os detalhes variam conforme a vertente teológica, mas há elementos comuns:

  • o sol se escureceria;
  • a lua assumiria tonalidade avermelhada;
  • catástrofes naturais se multiplicariam;
  • emergiria uma figura identificada como o Anticristo, que exerceria autoridade sobre a humanidade em meio ao caos.

Após um intervalo que alguns textos apontam como sete anos, aconteceria a segunda vinda de Cristo, encerrando o domínio dessa figura e instaurando um período de paz. Os fiéis arrebatados permaneceriam livres do sofrimento descrito para quem tivesse ficado na Terra.

Interpretações divergentes entre movimentos cristãos

Embora o termo arrebatamento seja popular em comunidades evangélicas, especialmente nos Estados Unidos e em partes da África e da América Latina, não há consenso absoluto sobre a ordem dos eventos ou sobre datas específicas. Alguns grupos defendem que o arrebatamento ocorrerá antes da tribulação — fase de calamidades —, enquanto outros posicionam a ascensão dos fiéis no meio ou depois desse período. Há ainda igrejas que entendem as passagens de forma simbólica, sem atribuir cronogramas literais ou direção estritamente física ao fenômeno.

No caso de Mhlakela, a interpretação indica um arrebatamento pré-tribulacional, em que os fiéis seriam removidos da Terra antes dos eventos de destruição. Isso justificaria a recomendação para que seguidores se preparassem agora, pois não haveria chance de arrependimento posterior.

Repetição de datas e expectativas

O ciclo de marcar datas específicas e vê-las fracassar acompanha parte da história do cristianismo desde o primeiro milênio. A cada novo anúncio, surgem explicações para os erros de cálculos anteriores ou revisões de interpretações teológicas. Mesmo assim, fiel após fiel continua aderindo a novas projeções. Especialistas em estudos religiosos apontam fatores como:

  • o caráter consolador da ideia de justiça divina iminente;
  • a percepção de que sinais contemporâneos (guerras, crises econômicas, desastres ambientais) confirmariam profecias bíblicas;
  • a necessidade humana de atribuir sentido e propósito a acontecimentos trágicos ou a experiências pessoais de sofrimento.

Embora pesquisadores debatam esses pontos, o presente texto registra apenas a reincidência das previsões como fato observável, sem ingresso em hipóteses interpretativas.

Efeito das redes sociais na disseminação

Em períodos anteriores, líderes religiosos dependiam de pregações presenciais, publicações impressas ou emissoras de rádio e televisão para difundir mensagens apocalípticas. Hoje, aplicativos de compartilhamento de vídeo permitem que um discurso alcance milhões de pessoas em poucas horas, sem barreiras geográficas. A fala de Mhlakela passou a ser replicada, reagida e comentada por usuários que nem sempre pertencem ao mesmo contexto cultural ou denominacional, aumentando a exposição do tema.

Esse ambiente amplia a velocidade com que decisões são tomadas com base em convicções religiosas. A venda de bens citada anteriormente se encaixa nesse cenário, pois a recepção de informações ocorre em tempo real, muitas vezes sem filtros institucionais. Assim, previsões de curto prazo, como a de 23 e 24 de setembro, podem estimular respostas igualmente imediatas.

Ausência de comprovação empírica

Até o momento, não há registro de indícios verificáveis de que eventos sobrenaturais tenham sido previamente anunciados e confirmados nas datas sugeridas por diferentes pregadores. A experiência acumulada em 1999, 2012 e em outras ocasiões demonstra que sistemas sociais e naturais permaneceram funcionando normalmente após as datas marcadas. Mesmo assim, a crença no arrebatamento se mantém ativa e encontra novos públicos.

A impossibilidade de comprovação científica não impede a circulação da mensagem nem a adesão individual. Isso se explica, em parte, pela natureza de uma profecia religiosa, que se baseia na fé e na interpretação de textos sagrados, não em métodos empíricos passíveis de reprodução ou teste em laboratório.

Consequências práticas para quem adere à previsão

A decisão de vender patrimônio, interromper estudos ou romper contratos de trabalho pode resultar em dificuldades caso o evento anunciado não ocorra. Agências de aconselhamento financeiro e instituições religiosas que não endossam datas específicas costumam alertar fiéis para pensar sobre os efeitos a longo prazo dessas escolhas. Na África do Sul, onde Mhlakela reside, veículos de imprensa locais já registraram preocupação de familiares de seguidores, temendo dívidas e perda de estabilidade econômica.

Além dos impactos materiais, especialistas em saúde mental apontam a possibilidade de frustração intensa, sentimento de engano ou crise de fé após o não cumprimento de uma profecia. Esses resultados variam de pessoa para pessoa e não são inevitáveis, mas fazem parte das discussões em comunidades religiosas que passaram por experiências semelhantes no passado.

Calma institucional e ausência de mobilização governamental

Até a publicação deste texto, autoridades públicas não anunciaram planos de contingência ou alertas relacionados à previsão de 23 e 24 de setembro. Também não há registro de que igrejas de grande porte tenham adotado posicionamento oficial orientando membros a se juntar à expectativa do arrebatamento nessa data. A postura de instituições pode contribuir para reduzir o alcance imediato de ações radicais, mas não impede a adesão individual motivada por convicções pessoais.

Permanência do tema após a data marcada

Independentemente do resultado em 23 e 24 de setembro, a história indica que novas previsões surgirão nos próximos anos. O arrebatamento continua a ocupar espaço relevante na teologia de diversas denominações e se apresenta como ponto de pronunciamentos periódicos de líderes religiosos que interpretam sinais do tempo presente. A cada ciclo, surgem ajustes na leitura de passagens bíblicas, cálculos de datas baseados em numerologia ou avaliação de eventos geopolíticos.

A lembrança de datas anteriores que “falharam” não parece eliminar o interesse. Em vez disso, alguns adeptos reinterpretam esses episódios como momentos de teste da fé, erros de cálculo ou mesmo misericórdia divina que teria “adiado” o juízo final. Essas leituras mantêm a expectativa viva e justificam a adesão renovada.

Quadro geral

O anúncio feito por Joshua Mhlakela insere-se em uma longa linha de previsões sobre o arrebatamento e o fim dos tempos. Como nas ocasiões anteriores, parte dos fiéis age de forma concreta, vendendo bens ou reorganizando a vida. Ao mesmo tempo, setores religiosos, acadêmicos e governamentais observam o fenômeno sem aderir às datas estipuladas, aguardando o resultado das expectativas. Fatos históricos indicam que a humanidade já atravessou momentos semelhantes, mas a repetição não diminui o impacto sobre quem acredita que este seja, de fato, o último capítulo antes de uma transformação global.

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