As investigações contemporâneas de fenômenos aéreos não identificados têm avançado para além da análise de luzes no céu e registros de radar. Parte desse movimento é conduzida por um grupo de acadêmicos que cruza duas frentes de estudo consideradas, até pouco tempo, independentes: os locais de queda de OVNIs e a influência de estados alterados de consciência na percepção humana. Entre os nomes centrais desse esforço estão o imunologista Dr. Garry Nolan, professor da Universidade Stanford, e a pesquisadora de religiões comparadas Dra. Diana Walsh Pasulka, autora de “American Cosmic”. Ambos defendem que compreender o fenômeno exige olhar simultaneamente para evidências físicas de supostos acidentes e para relatos de experiências mentais incomuns que acompanham tais ocorrências.
Supostos destroços no Novo México
Um dos episódios mais citados por Nolan e Pasulka diz respeito a um ponto isolado no deserto do Novo México, onde teriam sido localizados fragmentos que desafiam explicação convencional. A equipe que visitou a área descreveu material metálico organizado em padrões de colmeia, ligas prateadas de aparência incomum e outros componentes aparentemente avançados. O ambiente, segundo o grupo, apresentava ainda características típicas de impacto: árvores derrubadas na direção da trajetória presumida e solo com marcas de distúrbio.
Chamou a atenção dos pesquisadores a presença de objetos domésticos descartados no mesmo perímetro. Essa mistura de produtos cotidianos, como utensílios comuns, com detritos que aparentavam vir de tecnologia aeroespacial de alta complexidade, levantou a hipótese de contaminação deliberada. Para Pasulka, existiria a possibilidade de tentativas de encobrir ou confundir a análise posterior ao espalhar itens terráqueos junto aos fragmentos mais intrigantes.
Análise laboratorial e debate sobre origem
O Dr. Garry Nolan recebeu parte das amostras recolhidas no Novo México. Em avaliação inicial, as razões isotópicas sugeriam composição incomum, levando à especulação de material não terrestre. Contudo, o cientista decidiu refinar métodos e expandir consultas. Especialistas em metalurgia apontaram que certos resultados poderiam ser atribuídos a efeitos como ligação diatômica observada durante espectrometria de massas. O fenômeno, conhecido por alterar leituras quando átomos se unem temporariamente no processo, explicaria parte dos valores fora dos padrões.
Mesmo depois dos ajustes, Nolan destacou que a descoberta de elementos comuns na Tabela Periódica não descarta, por si só, origem extraordinária. Segundo ele, aeronaves construídas em laboratórios humanos também se baseiam em materiais convencionais, mas apresentam engenharia avançada. Dessa forma, artefatos encontrados no deserto poderiam, igualmente, ser fruto de tecnologia além do conhecimento atual, ainda que compostos por elementos familiares.
A importância do contexto histórico e religioso
Enquanto Nolan se dedica à caracterização físico-química dos supostos destroços, Pasulka insere o mesmo episódio em um panorama mais amplo, apoiado em documentos históricos e em estudos de mística religiosa. A pesquisadora lembra que descrições de objetos luminosos, levitação, visões e fenômenos aéreos não são exclusivas do século XX ou XXI. Arquivos do Vaticano, por exemplo, contêm referências a episódios considerados sobrenaturais que apresentam paralelos com encontros modernos relatados como avistamentos de OVNIs.
Para Pasulka, práticas religiosas de diferentes tradições desenvolveram protocolos de interação segura com estados visionários. Processos como jejuns, retiros e rituais específicos têm sido usados, ao longo dos séculos, para acessar percepções incomuns que fiéis interpretam como contatos com inteligências superiores. A repetição do padrão – objeto no céu precedido ou seguido por alteração de consciência – sugere, na visão da autora, que o fenômeno experimentado no Novo México é parte de um continuum histórico em vez de algo isolado no tempo.
Neurociência e janela de percepção
Na linha de investigação sobre consciência, Nolan aproxima-se do tema pelo prisma da neurociência. Ele argumenta que procedimentos capazes de reduzir a atividade da chamada rede de modo padrão do cérebro – região associada ao pensamento autorreferencial – muitas vezes expandem a criatividade e a capacidade de perceber estímulos sutis. Entre as técnicas citadas estão meditação, uso controlado de psicodélicos e protocolos de privação sensorial.
Segundo o professor, testemunhos de contato com inteligências não humanas costumam ocorrer em situações que envolvem esse tipo de alteração cognitiva. Há relatos de pessoas que, após sessões prolongadas de meditação ou em experiências espontâneas de êxtase, descrevem interações com entidades que se valem de símbolos, linguagem ou sensações incomuns. Nolan vê indícios de que o “canal” de comunicação poderia ser a própria atividade cerebral reorganizada por esses estímulos.
Paralelos com a história da ciência
A partir do cruzamento de dados laboratoriais e relatos subjetivos, os dois pesquisadores propõem uma analogia com a trajetória de outros fenômenos que, no passado, pareciam improváveis. Meteoritos, por exemplo, chegaram a ser rejeitados pela comunidade científica do século XVIII, até que testemunhos sólidos e amostras físicas reuniram evidências suficientes para revisão de posicionamento. Pasulka e Nolan sugerem que o mesmo ciclo de ceticismo pode ocorrer com locais de queda de OVNIs e as implicações conectadas à consciência humana.
Para sustentar o argumento, Nolan cita a quantidade de depoimentos disponíveis. De acordo com o professor, milhares de relatos vêm acompanhados de dados de radar, fotografias ou marcas detectáveis no solo, ultrapassando o que ele considera a “massa crítica” necessária para admitir um fenômeno autêntico. O desafio, sustenta, não é mais provar existência, mas compreender contexto, tecnologia e motivações por trás dos eventos documentados.
Estrutura híbrida de pesquisa
As frentes de estudo descritas por Pasulka e Nolan exemplificam um modelo híbrido que combina:
- Análise física de detritos encontrados em locais de queda de OVNIs, incluindo espectrometria, comparação isotópica e avaliação metalúrgica;
- Investigação histórica, examinando manuscritos, cartas e registros eclesiásticos que relatam visões ou interações com “seres celestiais”;
- Pesquisa em neurociência e psicologia, avaliando como estados alterados de consciência influenciam a percepção de fenômenos aéreos;
- Estudo de padrões sociológicos presentes em diferentes culturas, comparando narrativas de contato ao longo do tempo.
Esse formato, defendem os pesquisadores, amplia o espectro de dados e evita que qualquer área isolada da ciência dicte conclusões antes que o conjunto de informações seja devidamente confrontado.
Contaminação ou disfarce?
O episódio do Novo México prossegue sem definição conclusiva, principalmente pelo risco de contaminação. A equipe encontrou utensílios de uso doméstico espalhados junto a fragmentos que, à primeira vista, pareciam sofrer abrasão de alta velocidade ou exposição a temperaturas elevadas. Se a disposição desses objetos foi intencional, pode indicar tentativa de mascarar um acidente real; se ocorreu de maneira casual, reforça a dificuldade de preservar qualquer local sem interferência externa.

Imagem: ovnihoje
Para evitar conclusões precipitadas, Nolan recomenda maior rigor na cadeia de custódia de amostras. Isso inclui coleta documentada em vídeo, armazenamento com lacres numerados e livre acesso a laboratórios independentes. A falta de protocolos padronizados, segundo ele, permite alegações de fraude e dificulta replicação de resultados.
Convergência de disciplinas
Pasulka observa que a fronteira entre ciência e espiritualidade vem se deslocando à medida que novos instrumentos permitem medir alterações fisiológicas ligadas a experiências subjetivas. Ressonância magnética funcional, eletroencefalografia de alta densidade e análise de variabilidade cardíaca são exemplos de ferramentas aplicadas ao estudo de meditadores, xamãs e participantes de rituais. Resultados preliminares apontam mudanças consistentes na atividade cerebral, reforçando a tese de que estados visionários possuem fundamentos neurobiológicos mensuráveis.
O diálogo entre esses resultados e a análise de locais de queda de OVNIs abre espaço para interpretações que enfatizam processos de consciência como parte do fenômeno. Ainda que não haja consenso sobre a origem dos objetos detectados, cresce a percepção de que o olhar humano, influenciado por fatores culturais, fisiológicos e psicológicos, desempenha papel decisivo na forma como esses eventos são descritos e catalogados.
Novo paradigma proposto
A síntese do trabalho de Nolan e Pasulka sugere que, para desvendar a natureza dos OVNIs, será necessário ultrapassar um paradigma estritamente materialista. Destroços encontrados no deserto podem fornecer pistas de engenharia avançada, mas a experiência subjetiva relata aspectos que não se reduzem às leis conhecidas da física. A integração de dados físicos com mapas de atividade cerebral, registros históricos e métodos rigorosos de análise pode levar a um modelo mais abrangente de investigação.
Nesse cenário, sensores de última geração e laboratórios especializados continuarão essenciais, porém a atenção a técnicas de indução de estados alterados – como protocolos controlados de meditação ou substâncias psicodélicas em ambientes clínicos – pode revelar camadas adicionais de informação. Pasulka resume a proposta afirmando que “a consciência parece ser um ponto de acesso” a inteligências ainda não compreendidas.
Próximos passos na pesquisa
Entre as ações recomendadas pelos pesquisadores, destacam-se:
- Implantação de equipes multidisciplinares em futuras expedições a supostos locais de impacto, reunindo geólogos, engenheiros de materiais, neurocientistas e historiadores;
- Documentação extensiva em alta resolução, desde o momento da chegada ao terreno até o transporte de cada fragmento;
- Adoção de protocolos éticos e científicos para experimentos com estados alterados, a fim de verificar se testemunhas treinadas são mais propensas a relatar contatos ou percepções incomuns durante missões de campo;
- Cruzamento de bases de dados militares, civis e acadêmicas para identificar sobreposições de relatos, assinaturas de radar e padrões atmosféricos.
Credibilidade e volume de relatos
Nolan chama atenção para o que considera um “limiar de credibilidade” já alcançado. Segundo seus cálculos, a soma de avistamentos corroborados por sensores, mais depoimentos de pilotos e civis de diferentes países, configura um corpo de evidências insuficiente para admitir fraude sistemática, mas suficiente para justificar pesquisa formal. A premissa, portanto, deixa de ser descobrir se o fenômeno existe e passa a ser compreender como ele se manifesta.
Para Pasulka, a repetição histórica de padrões fortalece a interpretação de que o fenômeno não pode ser reduzido a tecnologia militar sigilosa ou alucinação coletiva. Registros medievais, renascentistas e contemporâneos descrevem objetos luminosos, mensagens em sonhos e transformações psicológicas dos observadores, indicando continuidade de sintomas e simbologias.
Implicações para a sociedade e a ciência
A possibilidade de que locais de queda de OVNIs e consciência humana estejam interligados traz implicações para diversas áreas. Na ciência, esse entendimento convocaria abordagens interdisciplinares, capaz de conciliar laboratório e estudo subjetivo. Na esfera social, implicaria rever a fronteira entre experiência religiosa, fenômeno psicológico e contato com inteligências desconhecidas. Nolan e Pasulka evitam, entretanto, atribuir motivações ou intenções aos possíveis agentes por trás dos eventos. O foco permanece em coletar dados verificáveis.
Conclusão provisória
A combinação de evidências materiais e relatos de estados alterados não fornece, até o momento, respostas definitivas. Contudo, delineia um campo de pesquisa que vai além da simples catalogação de objetos voadores não identificados. Se, como sugerem os estudos, a consciência é parte integrante do fenômeno, a compreensão completa dependerá tanto de instrumentos de medição quanto da disposição humana para explorar as próprias faculdades perceptivas.
Assim, para investigadores como Garry Nolan e Diana Pasulka, o próximo salto não será apenas tecnológico; será, igualmente, cognitivo. Ao integrar destroços, dados laboratoriais e cartografias da mente, esses cientistas acreditam que poderão aproximar a comunidade acadêmica de um entendimento mais amplo sobre o que realmente ocorre nos céus — e, possivelmente, no interior da experiência humana.
Fonte: OVNI Hoje