Pesquisadores que buscam sinais de outras civilizações vêm questionando a maneira como objetos incomuns são catalogados no Sistema Solar. Uma análise recente aponta que corpos classificados como “cometas escuros” — isto é, sem cauda visível, porém sujeitos a aceleração não explicada apenas pela gravidade — podem, em alguns casos, corresponder a artefatos tecnológicos lançados por inteligências extraterrestres. A discussão ganhou força depois de novos relatos sobre populações de objetos desse tipo, exemplos passados de equívocos de identificação e a aproximação do objeto interestelar 3I/ATLAS, prevista para 2025.
Hipótese de nave-mãe e mini-sondas
O astrofísico Avi Loeb, da Universidade Harvard, sugere que uma civilização capaz de monitorar a região interna do Sistema Solar teria mais eficiência ao enviar uma nave-mãe, responsável por liberar mini-sondas em órbitas locais. Segundo o raciocínio, essas pequenas unidades seriam arremessadas em velocidade parcialmente oposta à da nave principal, reduzindo sua velocidade final abaixo do limite de escape solar. Dessa forma, elas permaneceriam em trajetória heliocêntrica, cobrindo longos períodos de observação com baixo consumo de energia.
Se construídas com dimensões compatíveis com a escala humana de engenharia — poucos metros de comprimento — tais sondas teriam tamanho angular ínfimo quando vistas a distâncias comparáveis à separação Terra-Sol. Mesmo instrumentos poderosos como o James Webb Space Telescope ou arranjos de radiotelescópios do porte do Event Horizon Telescope não alcançariam resolução suficiente para distingui-las. Assim, qualquer análise dependeria de parâmetros orbitais e de sinais de aceleração não gravitacional, fatores que, até o momento, motivam a classificação de “cometas escuros”.
População de 14 objetos próximos à Terra
Um artigo publicado em 2024 identificou duas famílias totalizando 14 objetos sem evidências de atividade cometária clássica, mas que exibem acelerações não alinhadas às forças gravitacionais conhecidas. A denominação “cometa escuro” deu origem ao debate sobre adequação terminológica. Para Loeb, aplicar o rótulo a possíveis sondas seria equivalente a descrever um elefante como “zebra sem listras”: a nomenclatura não reflete a natureza subjacente.
Observadores tradicionais de cometas tendem a enquadrar novas descobertas dentro de categorias familiares. O caso motiva questionamentos sobre a eventual presença de dispositivos artificiais navegando entre as órbitas internas do Sistema Solar, camuflados nos bancos de dados astronômicos como corpos naturais anômalos.
Casos de identificação equivocada dentro do próprio Sistema Solar
Equívocos de catalogação não são inéditos. Em 2 de janeiro de 2025, o Minor Planet Center (MPC) anunciou a detecção de um suposto asteroide próximo à Terra. A designação foi removida no dia seguinte, quando se constatou que a trajetória correspondia ao Tesla Roadster lançado pela SpaceX em 6 de fevereiro de 2018. O afastamento de qualquer semelhança com artefatos naturais exigiu conhecimento prévio da missão que enviou o veículo ao espaço. Caso tal informação não estivesse disponível, o objeto provavelmente continuaria listado como corpo rochoso.
Exemplo semelhante ocorreu em 17 de setembro de 2020. O sistema de observação Pan-STARRS, no Havaí, detectou o objeto 2020 SO, que apresentava aceleração associada à pressão da radiação solar. Análises no Infrared Telescope Facility da NASA revelaram características espectrais de aço inoxidável, identificando-o como estágio superior de um foguete Centaur, lançado na missão lunar Surveyor 2 em 1966.
1I/’Oumuamua e a questão do cometa escuro interestelar
A controvérsia intensificou-se com a descoberta do primeiro visitante interestelar registrado, 1I/’Oumuamua, em 19 de outubro de 2017, também pelo Pan-STARRS. O objeto exibiu leve aceleração não gravitacional, interpretada como resultado da pressão da luz solar. A ausência de cauda detectável, mesmo em observações profundas do telescópio espacial Spitzer, desafia a designação de “cometa”. Ainda assim, a maioria dos astrônomos sustenta a classificação, alegando que o mecanismo de emissão de gás poderia ter atuado de forma invisível aos instrumentos.
Para Loeb, a insistência em explicar cada detalhe dentro de moldes cometários revela falha de paradigma. Embora os registros não comprovem natureza artificial, também não a descartam. Diante da lacuna de dados, manter a hipótese tecnológica em aberto, segundo ele, seria o caminho mais científico.
Nova aproximação: 3I/ATLAS
O próximo teste para essas interpretações deve ocorrer com 3I/ATLAS. Descoberto recentemente, o objeto interestelar tem periélio previsto para 29 de outubro de 2025. A trajetória anômala e o brilho sem cauda levaram Loeb a sugerir monitoramento intensivo. Caso apresente comportamento compatível com pressão de radiação solar sem evidência de ejeção de voláteis, a hipótese de se tratar de artefato tecnológico ganhará peso adicional. Observações detalhadas ao longo da aproximação poderão distinguir se se trata de corpo natural semelhante a 2I/Borisov — que exibiu clara atividade cometária — ou de algo diferente.
Busca por objetos anômalos na atmosfera da Terra
Além dos corpos em órbita solar, Loeb aponta a necessidade de investigar possíveis objetos anômalos dentro da própria atmosfera terrestre. Nos Estados Unidos, tais registros são processados por agências de inteligência sob a sigla UAP (Fenômenos Anômalos Não Identificados). A atribuição de origem ainda depende de medições precisas que não se limitem a relatos visuais.

Imagem: ovnihoje
Projeto Galileo: três observatórios para monitorar todo o céu
Com esse objetivo, o Projeto Galileo, coordenado por Loeb, está instalando três novos observatórios nos estados de Massachusetts, Pensilvânia e Nevada. Os sistemas atuarão em infravermelho, luz visível, rádio e captação de áudio, com capacidade para registrar milhões de objetos por ano. A coleta de dados será processada por algoritmos de inteligência artificial, que buscarão outliers de comportamento — potenciais candidatos a artefatos não convencionais.
Durante a passagem de 3I/ATLAS, a equipe pretende dedicar parte da infraestrutura à busca de correlações entre eventos atmosféricos inusitados e a posição do objeto interestelar. A iniciativa pretende preencher lacuna histórica: a de associar registros de UAPs a condições astronômicas específicas, algo que tecnologias distribuídas e de alta cadência só recentemente viabilizam.
Implicações para a taxonomia astronômica
A discussão sobre “cometas escuros” toca no cerne da taxonomia dos corpos celestes. Desde o início da era telescópica, astrônomos classificam objetos segundo características visíveis: órbita, brilho, presença ou ausência de cauda. A introdução de artefatos construídos por civilizações avançadas criaria camadas adicionais, mesclando atributos físicos naturais com soluções de engenharia desconhecidas.
A incapacidade de resolver diretamente pequenas sondas a distâncias astronômicas reforça o papel de medidas indiretas, como aceleração anômala e reflectância espectral incomum. O exemplo do Centaur e do Tesla Roadster mostra que objetos de fabricação humana podem ser — e foram — confundidos com corpos naturais quando a origem não é previamente documentada.
O papel dos grandes levantamentos e das missões futuras
Levantamentos de largo espectro, caso do Vera C. Rubin Observatory, deverão aumentar o volume de dados sobre pequenos corpos orbitando o Sol. A expectativa é de que objetos similares a 1I/’Oumuamua sejam identificados em cadências maiores, permitindo amostra estatística representativa. Paralelamente, missões que possam visitar rapidamente esses corpos, ou mesmo capturar material, ofereceriam evidências decisivas sobre sua constituição.
Enquanto essas iniciativas não se concretizam, Loeb defende postura aberta: reconhecer as limitações dos modelos atuais e admitir que a natureza pode incluir artefatos artificiais em trânsito. Na visão dele, rejeitar esta possibilidade a priori equivaleria a ignorar potencial assinatura tecnológica passível de detecção científica.
Próximos passos e expectativa comunitária
A aproximação de 3I/ATLAS deve mobilizar telescópios terrestres e orbitais a partir de 2024, quando o objeto se tornará gradualmente acessível a instrumentos de médio porte. Grupos independentes planejam campanhas fotométricas e espectroscópicas para detectar, ou refutar, indícios de emissão de gás. Caso os dados revelem ausência de cauda e aceleração incompatível com simples reflexão solar, novos modelos teriam de ser elaborados.
No curto prazo, o desafio permanece duplo: expandir a base de observações e refinar algoritmos capazes de diferenciar assinaturas dinâmicas naturais de potenciais sinais de engenharia avançada. Se confirmado o caráter tecnológico de qualquer objeto, o impacto para a astrobiologia e para a compreensão de nosso lugar no cosmos seria profundo. Entretanto, até que tais evidências surjam, a nomenclatura provisória de “cometa escuro” seguirá abrigando tanto agregados de gelo inativos quanto possíveis mensageiros de civilizações distantes.
Fonte: OVNI Hoje