São Paulo – Um objeto voador que permaneceu três semanas no centro das discussões ufológicas brasileiras, conhecido nas redes sociais como “OVNI do Sacomã”, foi identificado como um paraquedas liberado por um balão após investigação conduzida pelo canal Brazil UFO. O episódio, que ganhou repercussão a partir de imagens gravadas em 20 de julho de 2025, mobilizou moradores da Vila Moinho Velho, pesquisadores amadores e curiosos até a confirmação da origem terrestre do artefato em meados de agosto.
Início da polêmica: filmagem na Rodovia Anchieta
O ponto de partida ocorreu às 15h30 de um domingo, 20 de julho. Enquanto seguia pela Rodovia Anchieta em direção à capital paulista, o morador de São Bernardo do Campo Samuel Kicut registrou, por meio do zoom máximo de seu telefone celular, um objeto aparentemente discoidal que se deslocava de forma regular acima do bairro. A gravação, encaminhada imediatamente ao youtuber Clayton Feltran, gerou curiosidade pela trajetória estável e pela alternância entre transparência e reflexo do suposto disco.
No vídeo, Kicut estimou dimensões aproximadas de três metros de diâmetro – equivalente, segundo ele, a duas janelas convencionais de prédio. À primeira vista, detalhes como uma “mancha” avermelhada que se tornava branca conforme o objeto descia reforçaram a impressão de algo incomum, impulsionando teorias nas redes.
Repercussão online e hipóteses iniciais
Difundida nos perfis do Brazil UFO, a filmagem alcançou milhares de compartilhamentos e alimentou interpretações variadas. Entre as suposições, figuravam desde uma barraca infantil arrancada pelo vento até um protótipo de tecnologia desconhecida. Nos primeiros debates do programa semanal Brazil UFO Talks, parte da equipe inclinava-se a manter a classificação de não identificado, argumentando que o deslocamento reto e a ausência de oscilações incompatibilizavam a peça com objetos leves arrastados pelo ar.
Mesmo assim, Feltran adotou postura cética: sustentou que era imprescindível obter novas imagens e, se possível, localizar o ponto de queda antes de aceitar qualquer classificação definitiva. Essa escolha provocou críticas de parte do público, ansioso por uma confirmação de origem extraordinária, mas delineou a metodologia do canal — priorizar evidências de campo.
Segundo ângulo muda a direção da investigação
A suspeita de uma explicação prosaica ganhou força após o envio de um segundo vídeo por Leandro, morador da própria Vila Moinho Velho. Gravada de posição oposta à de Kicut, a cena mostrava o mesmo objeto, porém com percepção diferente: para Leandro, tratava-se de um paraquedas sem paraquedista ou de um paraquedas empregado por balões. Ele ressaltou que a luminosidade observada no primeiro registro era um reflexo solar captado de baixo para cima, não uma luz própria.
Com a nova perspectiva, Feltran decidiu percorrer o bairro. Em 14 de agosto, acompanhado de câmera em mãos, iniciou entrevistas em postos de gasolina, estacionamentos e comércios, buscando relatos sobre queda ou resgate do artefato. Comentários de motociclistas que teriam procurado um balão na mesma noite reforçaram a hipótese terrena, embora o local exato permanecesse desconhecido.
Identificação exata do ponto de queda
A investigação evoluiu na segunda quinzena de agosto, quando o morador Robson Manzano contatou o canal. Ele relatou ter visto o paraquedas descer às 15h35 de 20 de julho e providenciou imagens dele já pousado no telhado de um prédio situado no cruzamento da Rua Ateneu com a Rua Américo Samarone, diante do Colégio Maria Odila. Segundo Manzano, o objeto permaneceu no topo do imóvel durante a noite, mas desapareceu antes do amanhecer, possivelmente recolhido por seus proprietários.
Posteriormente, Manzano conversou com o dono da residência, identificado como Durval. O morador afirmou não ter testemunhado a queda e concluiu que “a molecada” — expressão usada para se referir a baloeiros — recuperou o equipamento de madrugada. Indícios no telhado corroboraram a descrição: fragmentos de um material extremamente leve, semelhante ao papel empregado na confecção de balões, apresentavam cores preto, rosa, laranja e dois tons de verde.
Com base nos retalhos, Feltran calculou que, quando inflado, o paraquedas teria volume aproximado ao de um automóvel, compatível com uso em balões de grande porte. O youtuber compilou toda a apuração em vídeo publicado em 24 de agosto, no qual apresentou passo a passo do trabalho de campo, imagens obtidas pelos moradores e análise final.
Condições locais favorecem deslocamento de objetos leves
Paralelamente à checagem do Brazil UFO, o Portal Vigília percorreu a região para verificar eventuais testemunhas adicionais. Entre os entrevistados, um barbeiro destacou que rajadas de vento são frequentes na Vila Moinho Velho, situada em área de colina. Ele mesmo relatou ter visto meses antes uma cadeira de praia voar de uma varanda e quase atingir o carro de um cliente. O relato reforça que objetos de baixo peso podem percorrer distâncias consideráveis sob condições meteorológicas locais.
Moradores consultados em um raio de até quatro quarteirões do ponto de queda, entretanto, declararam não ter presenciado tumulto nem ouvindo menção ao “disco voador” no dia do incidente. A ausência de relatos diretos sugere que o resgate ocorreu discretamente ou em horário de baixa movimentação, possivelmente durante a madrugada, conforme supôs Durval.
Reação da comunidade ufológica
A confirmação de que o “OVNI” era, na verdade, um paraquedas de balão teve dupla repercussão. Para a audiência do canal, serviu como demonstração da importância de investigar antes de rotular fenômenos aéreos. Para pesquisadores, introduziu um artefato pouco catalogado — um modelo de paraquedas aparentemente novo ou raro — que poderá auxiliar em análises de ocorrências futuras.

Imagem: Internet
Cristiano Gonçalves, integrante frequente do Brazil UFO Talks, admitiu que inicialmente se inclinava a considerar o objeto um possível veículo não convencional, alegando desconhecer balões ou parapentes com estabilidade semelhante. Após o desfecho, declarou que o episódio reforçou o valor de reconhecer erros e lembrar que “OVNI” significa apenas objeto voador ainda não identificado, sem implicar origem extraterrestre.
Metodologia e lições do caso Sacomã
O processo que levou da especulação à identificação incluiu três etapas decisivas:
1) Recebimento e divulgação da filmagem original, que despertou público amplo;
2) Obtenção de registro alternativo, oferecendo novo ângulo e detalhamento visual;
3) Verificação presencial, com entrevistas, análise de fragmentos de material e localização do ponto de impacto.
Feltran salientou que, embora o resultado fosse previsível, preferiu comprovar a origem com evidências físicas. A postura atraiu críticas de seguidores ávidos por um desfecho extraordinário, mas, segundo ele, “não adianta ficar no achismo”. O material produzido rendeu elogios por abordar o tema sem sensacionalismo.
O caso também ilustra limites da investigação remota: mesmo com câmeras de alta resolução, zoom digital gera distorções que podem alterar percepção de tamanho, forma e comportamento de objetos. A proximidade do segundo vídeo e, sobretudo, a inspeção no endereço confirmado foram essenciais para derrubar a tese de dispositivo desconhecido.
Impacto no registro de fenômenos aéreos
Embora não se trate de um episódio de origem inexplicável, a ocorrência ampliou o repertório de possíveis confusões em observações visuais. Para rádios-escuta, grupos de observadores de céu e entusiastas de drones, a partir de agora, paraquedas de balão passam a integrar lista de itens que podem ser mal interpretados quando vistos a distância ou sobre fundo iluminado.
A topografia do Sacomã, com declives e correntes de ar canalizadas, combinada a atividades de baloeiros, oferece contexto para aparições semelhantes. Análises futuras nessas condições provavelmente considerarão como primeiro passo a verificação de artefatos de pirotecnia ou aeromodelismo antes de avançar para hipóteses menos convencionais.
Considerações finais sobre a apuração
Três semanas de exames, troca de informações entre moradores e revisões de imagens levaram a comunidade a concluir que o disco voador não passava de um dispositivo festivo. O episódio reforça a necessidade de prudência na divulgação de avistamentos, mas também destaca a importância de canais dedicados à checagem rigorosa, capazes de mobilizar público e reunir dados de campo que, de outra forma, poderiam permanecer dispersos.
Ao aceitar críticas e retificar posições logo que surgiram evidências sólidas, o Brazil UFO consolidou postura metodológica que pode servir de referência para outros grupos de pesquisa amadora. A experiência no Sacomã mostra que, mesmo em tempos de internet e captura de alta definição, observar, visitar e questionar ainda são passos insubstituíveis para transformar um “objeto voador não identificado” em objeto identificado.
Fonte: Portal Vigília