Uma gravação realizada em 2019 pela organização OceanX voltou a chamar atenção nas redes sociais ao mostrar um momento considerado histórico na pesquisa de animais de grande profundidade. A equipe, composta por biólogos marinhos e operadores de submersível, conseguiu instalar um tag de satélite em um tubarão-boca-grande-de-seis-brânquias diretamente do interior de um submarino de pesquisa. Além do avanço tecnológico envolvido, o registro trouxe um detalhe que provocou reações intensas entre internautas: o olho azul profundo do animal, cuja pupila foi descrita como “quase humana”.
Operação ocorreu a centenas de metros sob a superfície
O trabalho foi conduzido em águas profundas, em um ponto onde a luz solar não penetra. Nestes ambientes, a visibilidade é praticamente nula e a pressão atinge níveis que inviabilizam a operação da maior parte dos veículos tripulados convencionais. Para realizar a missão, a OceanX utilizou um submersível adaptado para longas estadias no leito oceânico, equipado com braços robóticos, câmeras de alta resolução e sistemas de iluminação projetados para não desorientar a fauna local.
Segundo os pesquisadores, o tubarão-boca-grande-de-seis-brânquias pertence a um grupo de espécies consideradas “fósseis vivos”, com características anatômicas que remontam a centenas de milhões de anos. O exemplar avistado teria vários metros de comprimento e, de acordo com a equipe, demonstrou comportamento típico de predadores de fundo: deslocamento lento, explosões breves de velocidade e atenção a odores que indicam oportunidade de alimento.
Marcação direta no habitat elimina estresse da captura
Antes desse experimento, a rotina de marcação de tubarões de profundidade exigia a captura e a remoção do animal para a superfície. Esse processo prolongado gerava estresse fisiológico, alterava a temperatura corporal do peixe e por vezes resultava em lesões. A abordagem testada pela OceanX, liderada pelo pesquisador Dr. Dean Grubbs, evita essa etapa. A partir de dentro do submersível, um braço mecânico levou a etiqueta eletrônica até a nadadeira dorsal do tubarão e efetuou a fixação em questão de segundos.
Os dados coletados pelo equipamento incluem rota de migração, profundidade média de deslocamento, temperatura da água e intervalos de subida à coluna d’água. Tais informações, segundo a equipe, podem explicar com maior precisão o papel ecológico do tubarão em estruturas alimentares das zonas abissais e mesopelágicas.
Momento do “olhar” gera comoção na internet
Embora a marcação já fosse motivo de celebração, foi o contato visual inesperado que transformou a gravação em um fenômeno viral. Em determinado trecho, o tubarão se aproxima sem pressa do casco transparente do submersível. A imagem mostra a cabeça robusta do animal girando levemente, possivelmente atraída pela iluminação ou pela corrente elétrica gerada pelos equipamentos.
De forma súbita, o peixe abre a pálpebra – estrutura rara de se observar em registros subaquáticos – e expõe uma íris azulada. A pupila, redonda e bem definida, difere do olho negro uniforme que costuma ser associado a tubarões em geral. O resultado foi descrito por diversos usuários das redes como “perturbador” e “hipnotizante”.
Nos comentários em plataformas de vídeo, espectadores relataram sensação de arrepio diante da aparente similaridade entre a pupila do tubarão e a de humanos. Mensagens apontaram que a observação rompe a expectativa de um predador com visão reduzida. Outros enfatizaram o fato de o animal habitar regiões onde a luz é quase inexistente, levantando questão sobre a real importância do sentido da visão para a espécie.
Desafios técnicos e biológicos da operação
A marcação em profundidade exige superar um conjunto de limitações mecânicas, físicas e biológicas. A pressão hidrostática, que aumenta cerca de uma atmosfera a cada dez metros, impõe restrições ao casco do submersível. Ademais, o uso de luz artificial deve equilibrar dois fatores: permitir vídeo de alta definição e, simultaneamente, minimizar impacto sobre o comportamento do tubarão. Luzes muito intensas podem afastar o animal; luminescência fraca compromete a qualidade visual do registro.
No caso específico da pupila azul desses tubarões, pesquisadores sugerem que a coloração possa ter relação com reflexão seletiva de comprimentos de onda residuais ou com adaptações do pigmento ocular à penumbra. Olhos grandes são comuns em espécies de profundidade porque ampliam a chance de captar qualquer fonte mínima de luz, como bioluminescência de presas ou competidores.
Repercussão evidencia fascínio por ecossistemas extremos
O renascimento do vídeo nas redes ocorreu quatro anos após a publicação original, fenómeno explicado pela combinação entre algoritmos de recomendação e a atração pública por imagens incomuns de vida marinha. Comentários multiplicaram-se em plataformas de vídeo, fóruns e aplicativos de mensagens, reforçando um padrão de viralização que envolve conteúdo curto, visualmente impactante e acompanhado de elemento de surpresa.
Especialistas em ciência da comunicação ressaltam que registros de profundidade geram alto engajamento porque expõem organismos raramente vistos e, com isso, confrontam percepções populares sobre o oceano. No imaginário coletivo, tubarões habitam águas rasas tropicais; observar um exemplar pré-histórico a mais de meio quilômetro de profundidade, com um olho que lembra o humano, subverte essa imagem.
Importância ecológica do tubarão-boca-grande-de-seis-brânquias
O animal filmado pertence a um clado antigo que antecede muitos grupos de vertebrados modernos. A presença de seis pares de brânquias – diferença em relação aos cinco pares mais comuns – indica uma linhagem originária antes de eventos de radiação evolucionária que diversificaram tubarões. Por ocupar posição elevada na cadeia alimentar de profundidade, o tubarão desempenha papel de regulador de populações, consumindo presas debilitadas ou carcaças e auxiliando no equilíbrio de energia dos ecossistemas abissais.
Estudos sobre o comportamento de alimentação ainda são escassos, mas há indícios de que a espécie se alimenta de peixes ósseos, invertebrados de grande porte e carniça. O acompanhamento por tag vai revelar se existem migrações verticais noturnas e qual a extensão territorial percorrida ao longo de um ciclo anual.
Contribuição do satélite tag para estratégias de conservação
O dispositivo instalado pelo braço robótico transmite informações a cada vez que o tubarão se aproxima da superfície o suficiente para que o sinal ultrapasse a coluna d’água. A coleta desses dados ajuda na elaboração de modelos de distribuição, essenciais para avaliar se ações humanas como pesca de arrasto ou exploração de mineração submarina cruzam as rotas do animal.

Imagem: Lucas Rabello
Embora não existam indicadores de declínio populacional crítico para o tubarão-boca-grande-de-seis-brânquias, a falta de dados consolidados impede que organizações internacionais definam status de conservação precisos. O projeto da OceanX pode, portanto, suprir lacunas de conhecimento e servir de parâmetro para políticas públicas ou recomendações de limites de captura em zonas além da jurisdição nacional.
Detalhes da reação humana diante do “olho”
A comoção não se restringiu à aparência do tubarão. Diversos espectadores destacaram a sensação de ser observado, algo pouco relatado em interações submarinas filmadas. A filmagem oferece foco nítido no globo ocular, e a estabilização da câmera realça a passagem gradual da pálpebra. Em seguida, nota-se reflexo suave das luzes do submersível sobre a córnea, reforçando a nitidez da pupila e gerando a impressão de consciência por parte do animal.
Um dos comentários populares ironiza que aquele seria “o olhar de alguém pedindo para desligar o farol alto”, referência ao brilho intenso emitido pela embarcação. Outros mencionaram temor de ter pesadelos, associando a imagem ao suspense presente na ficção científica. Apesar do tom informal dessas reações, cientistas lembram que atributos expressivos como olhos grandes costumam ser confundidos com sinais de inteligência comparável à humana, quando na verdade refletem necessidades funcionais de captura de luz ou predação.
Limites éticos na interação com megafauna abissal
No âmbito acadêmico, o caso reacendeu debate sobre o equilíbrio entre pesquisa e perturbação. A abordagem in loco reduz estresse ligado à ascensão rápida, mas iluminar e gravar o animal pode alterar seu comportamento de maneira ainda pouco compreendida. Instituições ligadas à conservação marinha defendem que cada expedição defina protocolos de impacto mínimo, incluindo duração de luz ativa, distância segura de aproximação e frequência de visitas ao mesmo ponto.
Para a OceanX, o feito demonstra que tecnologias de observação direta podem substituir métodos de captura, abrindo caminho a estudos menos invasivos. A agência informou nos materiais divulgados que seguirá analisando a resposta do tubarão por meio dos dados telemétricos. Caso o animal apresente padrões anormais de movimento, ajustes nos procedimentos futuros serão considerados.
Perspectivas para novas missões
Com base no sucesso da operação, a equipe planeja expandir o programa de marcação para outras espécies de profundidade, entre elas quimeras, peixes-bruxa e cefalópodes gigantes. A meta é criar um banco de dados georreferenciado que integre padrões de migração, uso de habitat e variáveis oceanográficas. Esses números devem alimentar algoritmos de modelagem climática que projetam consequências da acidificação e do aquecimento nos níveis profundos.
Enquanto isso, o vídeo continua circulando em velocidade acelerada em plataformas digitais, impulsionado pelo impacto visceral do “olho humano”. Para pesquisadores, a visibilidade alcançada ajuda a tornar temas de biologia marinha acessíveis a públicos que, de outro modo, pouco contato teriam com ciência oceânica. Para internautas, a gravação oferece o misto de fascínio e desconforto que caracteriza fenômenos virais.
Os responsáveis pela missão afirmam que todo o material registrado está à disposição de instituições acadêmicas que desejem aprofundar análises, incluindo medições detalhadas, metadados de posição e parâmetros de câmera. Já o submersível envolvido passará por manutenção antes de iniciar novo ciclo de expedições, previstas para áreas onde se suspeita da ocorrência de tubarões-lanterna e enguias pelágicas gigantes.
Desdobramentos científicos e culturais
Além do valor direto para a biologia, o registro reforça uma tendência cultural de enxergar o oceano profundo como última fronteira relativamente intocada. Documentários, filmes e séries vêm explorando essa narrativa, e a presença de um olhar que evoca familiaridade consolida o paralelo entre vida extraterrestre e fauna abissal. O tubarão-boca-grande-de-seis-brânquias, por sua antiguidade e morfologia singular, encaixa-se nesse imaginário com ainda mais força.
Para museus de ciência e aquários públicos, há expectativa de que futuras reproduções tridimensionais do olho capturado pelo vídeo integrem exposições educativas, ilustrando a diversidade de adaptações sensoriais. Embora a gravação não pretenda atribuir atributos humanos ao animal, o impacto provocado pelo close contribui para aproximar o público leigo das discussões sobre conservação marinha.
No balanço final, a operação da OceanX combina inovações de engenharia, dado científico valioso e conteúdo de forte apelo visual. Ao unir esses elementos, o projeto alcança simultaneamente objetivos de pesquisa e divulgação, exemplificando um modelo de produção de conhecimento que utiliza as redes sociais como aliadas. A reação coletiva diante do “olho azul” confirma o potencial de pequenos trechos de vídeo para instigar curiosidade e, em última instância, incentivar apoio a iniciativas de estudo do mar profundo.
Fonte: Mistérios do Mundo